A experiência mostra que, de manhã, sem o palato tomado de assalto pelos condimentos ou pela gordura da refeição, os vinhos mais planos, mais redondos têm mais facilidade em impor-se; com o almoço, alguns exemplares que haviam evidenciado um grau maior de acidez ou uma maior rugosidade de taninos ficam a ganhar no confronto com a comida. Uma vez mais, a tese de que a sensibilidade dos provadores varia com e sem comida ficou comprovada.
O painel voltou a contar com os “suspeitos do costume”, mas desta vez teve uma estreia absoluta: Joe Álvares Ribeiro, administrador do grupo Symington, que, além de provar, desempenhou as funções de anfitrião. Regressaram às lides Luís Costa, jornalista da RTP, Ivone Ribeiro, com anos de provas no sector e proprietária da garrafeira Garage Wine, em Matosinhos, Beatriz Machado, Mestre em Ciências de Viticultura e Enologia pela Universidade da Califórnia e directora de Vinhos do Hotel The Yeatman, em Gaia, Álvaro Van Zeller, enólogo e produtor de vinho e Lígia Santos, a primeira vencedora do Masterchef Portugal e proprietária da empresa Mastercook. Pedro Garcias e José Augusto Moreira remataram o painel de provadores em representação da Fugas.
Nesta edição, a prova mudou de lugar e realizou-se no restaurante Vinum, nas caves Graham’s, em Gaia, que o grupo Symington reconverteu para o turismo. As fichas de prova obedeceram ao modelo da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho), com uma pontuação entre os 0 e os 100 pontos. Os copos utlizados foram da Riedel, modelo Touriga Nacional. O almoço consistiu em entradas variadas (alheira, salada com queijo chèvre, nozes e maçã, croquetes de cogumelos) e o prato principal foi um estufado de rabo de boi, com cozedura longa. Todos os vinhos foram antecipadamente abertos e confirmado o seu bom estado.
Com dois vinhos do Douro, dois do Alentejo e um do Dão, Bairrada, Tejo, Lisboa e Península de Setúbal em prova pautou-se por um razoável equilíbrio. O que quer dizer que todos os vinhos variavam entre o muito bom e o excelente.
O vencedor foi, já se escreveu, um Dão Vinhas Velhas, feito com as castas Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Tinta Roriz. E foi-o nos dois momentos da prova: com e sem comida. Surpreendentemente (ou não), o Herdade de Portocarro, da Península de Setúbal, conquistou o segundo lugar. Nos comentários à prova, o painel apreciou a sua complexidade e equilíbrio – é um vinho de 2009, com boas notas de evolução e maturação. Curiosamente, este vinho foi relativamente melhor avaliado a seco do que no momento da refeição.
Com a Herdade dos Grous a ocupar o terceiro lugar, o Douro, que vencera a anterior edição da prova, ficou nesta série remetido para a quarta posição – o Duorum de 2012, que o Pacheca Superior de 2011 ficou na oitava. O painel ficou entusiasmado com o aroma intenso do vinho duriense de José Maria Soares Franco no primeiro momento da prova – as suas notas de violeta, intensamente durienses, justificaram a devoção. Mas à hora do almoço o Duorum sucumbiu à sua juventude e rugosidade. É, concluiu o painel, um vinho que há-de mostrar o que realmente vale após dois ou três anos de evolução em garrafa.