Fugas - Vinhos

  • Luís Ramos
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As vinhas extraordinárias das encostas de Portalegre

Talvez pela estranha mistura de castas, talvez pelas vinhas velhas e muito velhas, talvez pelas vinhas misturadas e pela acidez dos solos graníticos, a verdade é que hoje todos ambicionam ter uma vinha em Portalegre, por pequena ou irrelevante que seja, seja por razões estéticas ou ainda por razões mais vãs de simples promoção de imagem.

Goste-se ou não, Portalegre é diferente do restante panorama alentejano e, porque não evidenciá-lo, do restante panorama nacional. Algumas das vinhas, embora poucas, chegam a atingir a cota dos 800 metros, altitudes muito elevadas que situam a região entre as detentoras de vinhas mais altas de Portugal ou Europa. Graças à altitude elevada e à protecção da Serra de São Mamede as temperaturas são mais frescas, muito mais temperadas que as restantes sub-regiões alentejanas.

A viticultura assenta numa agricultura de montanha com encostas escarpadas e propriedades muito emparceladas que dificultam ou proíbem qualquer tentativa de mecanização e racionalização económica. Tal como na paisagem duriense, abundam as vinhas velhas, algumas delas com idades bem superiores a um século de vida, muitas das quais surgem em parcelas onde se conseguem encontrar dezenas de castas misturadas sem nexo aparente entre si. Como viveiro da diversidade da vinha, Portalegre afirma-se como uma das referências essenciais que urge descobrir, estudar e catalogar.

Não só pela enorme diversidade de castas aí encontradas, algumas delas baptizadas com nomes verdadeiramente exóticos, como pela diversidade inacreditável de clones de algumas das castas mais badaladas de Portugal. Tal como no resto do Alentejo que idolatra o Alicante Bouschet, também aqui surge uma casta de referência estranha e que poucos conhecem ou compreendem fora das fronteiras naturais da região. Essa casta dá pelo nome de Grand Noir e, curiosamente, é um parente muito próximo do Alicante Bouschet, de quem descende parcialmente, tendo sido criada pelo mesmo mentor do seu irmão mais conhecido.

Tal como o Alicante Bouschet, o Grand Noir é uma variedade tintureira de perfil rude e estilo inconfundível, casta quase desconhecida internacionalmente, que encontrou o seu poiso de eleição nas terras da serra e em alguns pontos muito especiais de Reguengos de Monsaraz.

Estranhamente continuam a ser poucos os que a usam como bandeira e ainda menos os que a tentam explicar e promover como individualidade da sub-região. Mais que uma casta porém, Portalegre ficou famosa pela mistura de castas na vinha, pela existência de vinhas misturadas que completam um lote individual e único para cada vinha.

O potencial de atracção de Portalegre tornou-se tão ilustre que num ápice a sub-região passou a atrair grande parte do investimento interno e externo à região. Para além dos investimento sem vinhas ou uvas por parte de alguns produtores alentejanos a sub-região começou a empolgar gente de fora, produtores assentes em outras regiões que se sentiram tentados em ensaiar um vinho nestas condições tão particulares.

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