Fugas - Vinhos

  • Enric Vives-Rubio
  • Adriano Miranda

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O vinho português anda à procura de um perfil mais elegante

Com ou maior trabalho com madeira, com o volume de álcool (João Nicolau de Almeida não vê aqui um problema à partida) ou com a selecção de castas, uma obra muito longe de estar consolidada, o maior problema do vinho português está talvez nesta interrogação: saber o que ele é, de facto. Qual é a sua identidade. Independentemente das modas do mercado, à margem do indispensável equilíbrio entre a produção de quantidade para padrões de gosto normalizados e a satisfação das altas elites do consumo mundial, vai passar ainda algum tempo até sabermos ao certo o que é um Douro, um Dão ou um Bairrada – exceptuando os inconfundíveis Baga.

A meio caminho dessa procura, há, no entanto, uma evolução que muitos apreciadores exigentes aplaudem: deixando de apostar no excesso de maturação, na madeira, na fruta intensa e marcante e em estilos de vinho que permitem o consumo imediato, os enólogos portugueses ficam limitados nos artifícios e tenderão a deixar uma maior margem de expressão para as condições naturais das diferentes regiões.

O caminho é ainda incerto, ambíguo, e por vezes mais testemunho de uma vontade do que de uma acção concreta, como nota Luís Soares Duarte. Como é óbvio, haverá resistência em prolongar a guarda dos vinhos por mais tempo nas adegas, haverá riscos e medo de mudar. Mas o simples facto de haver uma vanguarda que já se mostrou disposta a apostar nesta mudança é sinal que, daqui a uns anos, o vinho português poderá ser marcado por uma outra face.

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