Mas Portugal não se limita a produzir vinhos de excelência unicamente nesse mundo tão particular dos vinhos generosos, alargando o primor e carácter a outros estilos. Hoje talvez seja mesmo mais fácil encontrar esse carácter pronunciado nos vinhos brancos, aqueles que mais evoluíram ao longo dos últimos anos e aqueles que melhor traduzem a especificidade portuguesa. Poderá até parecer descabido num juízo mais apressado, mas admito que começa a ficar provado que as castas brancas nacionais são ainda mais interessantes e singulares que as suas congéneres tintas, destacando-se pela sua individualidade e forte personalidade.
Entre os vinhos que se destacaram contam-se o Quinta do Ameal 2013, um vinho preciso, rigoroso e perfumado da casta Loureiro, variedade que continua a afirmar-se como uma das jóias da coroa nacional. O Quinta das Bágeiras Garrafeira 2012 é igualmente merecedor de louvores acirrados, um branco feito à moda antiga, tenso, mineral, duro e incrivelmente poderoso, sem que alguma vez se torne excessivo. Num estilo quase oposto encontra-se o Niepoort Coche 2012, um vinho branco incrivelmente preciso, rigoroso, charmoso, tenso e profundo. Um dos grandes vinhos brancos de Portugal.
No capítulo quase inesgotável dos vinhos tintos começo por aquele que é uma das grandes revelações e novidades do ano, o Quinta da Vacariça Garrafeira 2008, um Baga estreme da Bairrada que viu finalmente a luz do dia para se estrear em grande no patamar cimeiro da pirâmide qualitativa dos vinhos tintos nacionais. Um vinho denso, carregado, austero mas tremendamente elegante. O alentejano Quinta do Zambujeiro 2009 não se poderia mostrar mais discordante no estilo e perfil mas seduz corajosamente pela fruta farta mas contida, pela dimensão imensurável, pela alegria de um final explosivo que garante uma vida longa.
O Quinta da Fata Touriga Nacional 2009 traduz uma das melhores interpretações possíveis da casta homónima, afastando-se do exagero emocional das notas florais e frutadas para apostar na contenção, na estoicidade de uma boca interminável e segura, fresca e alegre, que aponta para um prazo de vida muito dilatado. Finalmente, surge o Quinta do Passadouro Reserva 2011, um tinto rigoroso e categórico, um tinto preciso e desenhado a régua e esquadro, polido, certeiro e revelador do imenso potencial que o Douro encerra para produzir vinhos poderosos mas supinamente elegantes.