Fugas - Vinhos

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A tradição alentejana

Hoje o vinho mais antigo que a casa ainda tem em adega é o 1940, de que restam já poucas garrafas. Não será fácil saber como seriam os vinhos mais antigos enquanto jovens, na fase em que ainda se mostravam irrequietos e soltos. Mas quem já teve o privilégio de provar os vinhos mais velhos, das décadas de quarenta, cinquenta e sessenta do século passado, sabe que os vinhos ainda se apresentam incrivelmente frescos e vivos, com uma pujança inimaginável para vinhos com mais de setenta anos. Os vinhos mais antigos, do início da década de quarenta, possuem para cúmulo uma história ímpar, tendo sido acidentalmente descobertos por debaixo de uma pilha de carvão, permanecendo naturalmente protegidos das intempéries, das flutuações de temperatura e da luz do sol sob uma densa camada de carvão que escondia mais de uma centena de garrafas. Mesmo depois de tamanha privação e de tanto sofrimento, essas garrafas continuam plenas de vida com uma juventude que inquieta pelo fortuito.

Uma pequena parte da vinha velha subsiste no mesmo local de sempre, dez hectares plantados em 1958. Uma vinha velha e de castas misturadas que sobreviveu à ocupação revolucionária no período pós 25 de Abril de 1974 e posterior negligência, uma vinha velha plantada numa ilha de granito rodeada de xisto que acomoda a vinha mais jovem. Apesar de a vinha ser misturada, reconhece-se uma predominância de Trincadeira, Aragonez e Grand Noir, essa casta tão singular e marcante dos vinhos José de Sousa que, tal como o Alicante Bouschet, é uma casta tintureira criada por Henri Bouschet. E ainda há quem diga que os vinhos do Alentejo não sabem envelhecer…

 

 

 

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