Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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Gran Cruz compra Quinta de Ventozelo

O grupo francês chegou a ter uma quinta no Douro, a Granja, situada mesmo junta à Quinta da Leda, da Sogrape (perto de Almendra, Foz Côa), mas a história não é grande motivo de orgulho. A maioria da vinha foi plantada de forma ilegal e a Gran Cruz só a conseguiu legalizar graças, diz-se, ao envolvimento do governo francês. Influenciado ou não, o Governo português, liderado na altura por António Guterres, acabou por aprovar uma portaria de legalização de vinhas à medida das necessidades da Gran Cruz e que vigorou apenas um dia. Em 2005, a Quinta da Granja, com cerca de 100 hectares de vinha, foi vendida à Sogrape. A propriedade só estava autorizada a produzir vinho do Douro e esse segmento, na época, não era estratégico para a empresa francesa.

Com a morte do administrador histórico da Gran Cruz, Rocha Pinto, e a entrada, em 2009, de Jorge Dias, académico com passagem pelo Governo e pelo Instituto do Vinho do Porto, a estratégia e o comportamento da Gran Cruz começaram a mudar. O novo administrador pôs fim à parceria com Manuel Mateus, um conhecido intermediário de vinhos do Douro, renovou a cara da empresa em Gaia, lançou os primeiros vinhos do Douro e alguns vinhos do Porto branco extraordinários, construiu o mais moderno centro de vinificação do sector (ocupando o espaço deixado em aberto pela Adega Cooperativa de Alijó, em tempos uma das maiores do Douro e hoje em estado vegetativo) e comprou a Quinta de Ventozelo. Tudo em apenas cinco anos. Agora, o desafio não passa apenas por vender mais do que qualquer outra empresa. Passa também por disputar a liderança de qualidade nos vinhos do Douro e Porto e, havendo oportunidade, por continuar a ganhar músculo, razão pela qual Jorge Dias não fecha a porta a novos investimentos. Apesar de o sector do vinho do Porto ser dominado por cinco grandes grupos (Gran Cruz, Symington, Fladgate, Sogrape e Sogevinus), “continua a haver uma necessidade de concentração no sector do vinho do Porto”, face à cada vez maior pressão das grandes superfícies, defende. Os viticultores do Douro, esses, nunca estiveram tão indefesos.

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