Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

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Quando o vinho vale ouro

Mas a tendência global que parece ganhar mais peso é o assalto a caves, tanto de particulares como de restaurantes de fine dining. Garrafeiras com colecções excepcionais e cujo conteúdo é do domínio público. A publicação de reportagens sobre garrafeiras privadas em revistas da especialidade ou em revistas da sociedade tornou-se frequente, fornecendo pistas preciosas sobre o que se esconde em cada garrafeira. Apesar de muitas destas caves conterem colecções impressionantes pela quantidade e qualidade, a maioria dos furtos costuma reduzir-se a menos de uma centena de garrafas.

Bastam duas ou três dúzias de garrafas escolhidas a dedo para atingir valores impressionantes. Muito recentemente foi assaltada a garrafeira de um dos restaurantes mais famosos do mundo, o French Laundry, em Yountville, Napa, na Califórnia, e os larápios contentaram-se em levar 76 garrafas com um valor próximo de 270.000 euros. Do famosíssimo Château d’Yquem, em Sauternes, Bordéus, foram roubadas, ao abrigo da noite, 380 meias garrafas com um valor de mercado próximo dos 110.000 euros. Em Seattle foram roubadas 2500 garrafas de uma garrafeira particular que perfaziam um valor de 570.000 euros.

Descobriu-se mais tarde, quando apanharam os ladrões, que o vinho roubado tinha estado guardado em condições quase perfeitas dentro de um armazém climatizado. O que indicia que muitos destes roubos serão cometidos por profissionais ligados ao vinho, provavelmente com ajuda de alguém de dentro, e com comprador já assegurado. Talvez sejam mais profissionais que George Osumi, um pacato construtor civil de 65 anos que se especializou em limpar as garrafeiras dos clientes a quem fazia obras de reparação repondo as garrafas roubadas com vinhos de qualidade infinitamente inferior. Uma actividade paralela que lhe rendeu quase dois milhões e meio de euros… e cerca de dez anos de cadeia. Quando o vinho vale ouro a tentação é grande.

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