Fugas - Vinhos

Paulo Ricca

Opinião: Vinhos de Portugal 100% acima do “Muito Bom”

Por Jorge Monteiro

'Sendo um pequeno produtor mundial, com uma quota inferior a 2%, Portugal ocupa hoje um lugar de reconhecido destaque internacional junto dos especialistas enquanto produtor de vinhos de qualidade'

Com elevada frequência lemos ou ouvimos as mais positivas referências sobre o bom momento que os vinhos de Portugal atravessam. Se umas vezes são as medalhas nos concursos internacionais, noutras são as distinções deste ou daquele vinho, nesta ou naquela publicação. O nosso ritmo de vida, a imensidão dos meios de comunicação, sejam os tradicionais sejam os digitais, ou uma certa preferência para a informação célere e curta podem levar-nos, no entanto, a pensar que essa imagem positiva que se foi construindo sobre o vinho português pode não ser rigorosa por assentar numa reduzidíssima amostra.

Não é, porém, o caso presente. Os relatórios anuais que as mais importantes revistas internacionais (as revistas americanas Wine Spectator e Wine Enthusiast) publicam sobre o comportamento global dos países ou regiões ao longo do ano que terminou, que eu considero ser relevantes e sólidos, vêm confirmar uma imagem de qualidade que se começa a consolidar. O editorial da Wine Spectator de Janeiro/Fevereiro de 2014, acabadinho de sair, é disso uma prova categórica.

Neste relatório, a WS apresenta a síntese da avaliação que fez ao longo de 2015 a um total de 17.643 vinhos, dos quais 341 eram portugueses, número este próximo dos da Nova Zelândia, Argentina, Chile ou Alemanha e acima da Áustria. Neste exercício, a WS agrega de forma pouco habitual as grandes regiões do vinho, considerando cinco grupos: Califórnia, Estados Unidos, Itália, França e um grupo com os restantes países designado de “Internacional”. Compreende-se bem esta classificação, quer pelo peso da França e da Itália no contexto mundial, quer pelo peso da Califórnia no contexto dos EUA.

Nessa avaliação, Portugal aparece de facto com uma posição de destaque. Primeiro pelo facto de hoje serem raras as situações em que falhamos nos mínimos de qualidade. Enquanto países como Espanha, Chile, Austrália ou até França apresentam, ainda que de forma marginal, vinhos com pontuação abaixo dos 80 pontos, Portugal, no conjunto dos 341 vinhos provados, apresentou zero (0) vinhos abaixo daquela nota. Ou seja, 100% dos nossos vinhos provados mereceram do painel de especialistas daquela revista uma classificação de “Muito Bom” para cima. Poderemos assim afirmar que, hoje, produzimos regularmente, diria naturalmente, vinhos que os especialistas classificam de forma muito positiva.

Mas mais relevante que esta primeira conclusão é que Portugal apresentou-se em 2014 como o país que teve maior percentagem de vinhos com 95 ou mais pontos, 11%, bem mais do que a região de Champagne, com 5% ou o Piemonte, com 4%. Nesta escala da WS os vinhos acima de “Bom” poderão ser “Muito Bons” (85 – 89 pontos), “Extraordinários” (90 – 95 pontos) e “Clássicos” (96 -100 pontos). Ora, Portugal, em 2014, assume-se de forma clara, como o campeão na categoria do Clássicos, a mais elevada categoria. Mas se considerássemos o conjunto dos vinhos Clássicos e Extraordinários (o conjunto dos vinhos que obtiveram 90 ou mais pontos), Portugal seria ultrapassado apenas por sete regiões ou países: Washington (EUA), Piemonte e Toscana (Itália), Champagne e Borgonha (França), Áustria e Alemanha. 

Outros exercícios poderiam ser feitos mas em todos a conclusão seria a mesma: sendo um pequeno produtor mundial, com uma quota inferior a 2%, Portugal ocupa hoje um lugar de reconhecido destaque internacional junto dos especialistas enquanto produtor de vinhos de qualidade, competindo com as grandes regiões do Velho Mundo (Borgonha, Bordéus, Toscana, Piemonte) ou os grandes países produtores do Novo Mundo (Austrália, Chile, África do Sul). Devido à nossa pequena dimensão, nunca teremos a exposição destes últimos. Mas seremos, sem dúvida, mais distintivos. Porque produzimos com a mesma qualidade, mas produzimos diferente, e porque nos baseamos na diversidade das nossas castas autóctones.

Os especialistas já o reconhecem. Os decisores de compras vão a caminho. E um dia — acredito que não muito distante — chegaremos aos consumidores. Será uma questão de tempo, sem pormos o pé em ramo verde. 

Jorge Monteiro é presidente da Viniportugal

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