Os vinhos mudaram muito ao longo destes últimos anos. A imagem dos rótulos foi refrescada de forma substancial, a gama foi racionalizada, diminuindo o número de referências propostas, e a viticultura foi reformada, passando a abraçar de forma explícita medidas de protecção ambiental, providências que são ainda mais naturais e desejáveis numa empresa de capitais exclusivamente públicos. Os vinhos mais representativos desta nova visão que está a ser protagonizada por Bernardo Cabral, o enólogo e responsável por toda a operação vinícola, chamam-se Tyto Alba.
O nome poderá até parecer misterioso num primeiro contacto mas fica mais inteligível quando se descobre que é a referência científica ao nome da coruja das torres, também conhecida como coruja branca, espécie presente nas vinhas e que se transformou no símbolo e imagem da renovada ambição dos vinhos da Companhia das Lezírias. Por ora, o Tyto Alba existe em versão branco e tinto, o último dos quais é decomposto nas versões clássica, Reserva e uma edição estrema da casta Touriga Nacional. Vinhos muito bem desenhados, equilibrados e agradáveis, redondos e de contentamento garantido.
Mas a verdadeira estrela da companhia é o 1836, o vinho porta-estandarte da Companhia das Lezírias, cujo rótulo faz referência ao ano da fundação da empresa agrícola. Por ora, a única colheita disponível é a de 2012, com o vinho a traduzir uma versão estreme das vinhas mais velhas da casta Alicante Bouschet. Não escondo que tinha ficado com uma excelente imagem deste vinho quando, há cerca de dois anos, o provei e o tinto ainda era um jovem impetuoso a entrar na barrica e a precisar da afinação do tempo. E o tempo foi muito generoso com este tinto monumental, que promete uma nova dimensão à Companhia das Lezírias, colocando-a entre os poucos que sabem domar esta casta colossal mas tão fácil de se tornar demasiado brutal se não inteiramente compreendida ou bem domesticada.
A má notícia é que são só 3200 garrafas. A boa notícia é que o Tejo ganhou um vinho de referência que ajuda não só o produtor como toda a região e os seus agentes económicos. A ambição da Companhia das Lezírias e de Bernardo Cabral não morre com este vinho e dentro de dois ou três anos poderemos vir a ser confrontados com um branco de referência que poderá vir a surpreender pela ousadia do classicismo.