Fugas - Vinhos

MATT TURNER/REUTERS

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Uma nova estratégia para a Austrália

O país passou a vender preço e uniformidade, perdendo o brilho que tanto tinha custado a ganhar. Ao contrário do que os produtores acreditavam, as vendas começaram a decair e a influência australiana começou a decrescer de forma exponencial. Muitos dos colossais grupos que tinham nascido e conquistado o mundo ameaçaram falência e tiveram de ser desmantelados e vendidos em fatias mais pequenas e humanas. E a Austrália teve de mudar a agulha e desenhar um novo plano que reformasse a percepção internacional sobre os seus vinhos.

A mudança não poderia ser mais radical e é reveladora dos perigos reais que advêm da perda de identidade. Da afirmação pelo preço e por um nome genérico, Austrália, a política oficial dos vinhos australianos passou a privilegiar a afirmação e valorização do terroir, a valorização do nome das regiões, o enaltecimento de castas alternativas e, o que é inacreditável por parte de um país que sempre desvalorizou o princípio, a elogiar e a promover o conceito de lote. Ou seja, a Austrália passou a abraçar os princípios que sempre regeram os vinhos europeus e, de uma forma ainda mais pronunciada, os vinhos portugueses.

Uma boa lição para quem pretende criar e colar uma imagem de preço acessível aos vinhos portugueses, para quem quer desvalorizar o nome das regiões, para quem quer reduzir Portugal a uma dúzia de castas, para quem quer desvalorizar a ideia de lote que nos é tão querida e tão natural. Mas igualmente uma boa lição para quem não se preocupa em defender as grandes distinções que nos separam do resto do mundo, as vinhas misturadas, os lagares ou a fermentação em talhas de barro, entre tantos outros exemplos da nossa riqueza vinícola.

 

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