Fugas - Vinhos

Manuel Roberto

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Áustria, vinhos tintos e Dirk Niepoort

Uma das regiões, entre muitas, onde os vinhos ganham importância particular é Carnuntum, região histórica mas mínima em dimensão, com pouco mais de 890 hectares de vinha. Uma região com um passado glorioso que, como tantas outras, entrou em declínio durante muitos anos. Hoje agita-se num desassossego de actividade num renascimento proporcionado pelo reatamento de interesse pelos vinhos tintos austríacos. Muitos produtores insistem em fazer vinhos gigantes, volumosos e ostentatórios, percebendo-se algum fascínio com a tecnologia e os estilos mais intensos de outras paragens, muitas vezes com recurso aos inevitáveis Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah.

Uma receita universal contrariada por um homem que todos conhecemos bem, Dirk Niepoort, que produz vinho na região, juntamente com a também muito conhecida Dorli Muhr. Como sempre com Dirk Niepoort, vinhos um pouco contra a corrente, vinhos aparentemente delicados e levemente vegetais, austeros, secos, terrosos, polidos, simultaneamente delicados e potentes, como se se tratara de uma mescla entre um Pinot Noir da Borgonha e um Barbaresco italiano. Vinhos de vinhas velhas de Blaufränkisch… ou não fosse Dirk Niepoort o mentor do projecto! O vinho dá pelo nome Spitzerberg e é seguramente um vinho singular, telúrico, um vinho que consegue conjugar de forma rara subtileza e pujança, adjectivos que raramente dançam a valsa emparelhados.

Outro produtor de vinhos tintos austríacos que me impressiona profundamente é Weninger, um produtor afamado pelos vinhos e não por carácter ou qualquer tique de marketing. Um homem ponderado por natureza e muito low-profile que prefere que sejam os vinhos a fazer a conversa e a traduzir os seus sentimentos. Dedica-se em exclusividade aos vinhos tintos, dando proeminência à sua casta preferida, a Blaufränkisch, apesar de não renegar tanto a Zweigelt, como o Cabernet Sauvignon e o Merlot. No início da sua vida socorreu-se de todos os truques possíveis, usou concentradores, osmose inversa, tudo o que existisse para concentrar e enriquecer os vinhos. Depois apercebeu-se que o caminho estava errado e que estava a matar a natureza e a insultar o terroir. Converteu-se por inteiro à biodinâmica e os seus vinhos são hoje claramente superiores ao passado. São vinhos genuinamente austríacos no carácter, elegantes e delicados.

Áustria, país de brancos e vinhos doces? Pense melhor, e será recompensado.

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