Fugas - Vinhos

OXANA IANIN

Onde comprar vinho?

Por Rui Falcão

Entre as muitas dúvidas existenciais que perturbam periodicamente os apaixonados por vinho destaca-se a eterna questão de onde comprar as garrafas de vinho.

Quais são as principais e melhores opções, quais os estabelecimentos mais apropriados e onde encontrar maior diversidade e melhor aconselhamento? Onde será possível obter as melhores condições e onde se poderá encontrar maior variedade e escolhas mais criteriosas? Será que todas as alternativas são seguras e igualmente eficazes? São dúvidas comuns, interrogações que assaltam ciclicamente qualquer consumidor, incertezas naturais de quem se dispõe a gastar algum dinheiro em vinho.

Claro que a primeira, e também mais angustiante das perguntas, é saber que vinhos comprar. Esta é por definição a primeira pergunta levantada e, indubitavelmente, a de resposta mais difícil. Sendo impossível conhecer os infinitos rótulos que povoam dezenas de prateleiras de cada garrafeira ou grande superfície, não será fácil concretizar a escolha. Como sempre, e caso esteja aberto a sugestões, a melhor alternativa será aceitar os conselhos vindos dos profissionais da área, sejam elas vinculadas em colunas de opinião, guias de vinhos, revistas da especialidade, sommeliers ou profissionais das melhores garrafeiras.

Numa vida perfeita o ideal seria mesmo poder provar os vinhos antes de os comprar. Algo que pode ser conseguido através de participações em eventos de vinho, visitas a garrafeiras que realizem degustações periódicas, muitas vezes com a presença dos enólogos ou responsáveis pela produção. Algo que também pode ser abreviado através da visita a bares de vinho ou restaurantes que sirvam o vinho a copo, locais onde poderá provar o vinho a preços mais acessíveis do que teria de suportar se comprasse uma garrafa inteira. Existem ainda acções de promoção de produtores, eventos vínicos de grande visibilidade que constituem opções válidas para poder provar antes de se comprometer a comprar uma ou mais garrafas.

A partir do momento em que a decisão de compra está tomada perfilam-se diversas alternativas no horizonte de onde realizar essa aquisição. A compra directa ao produtor, a compra em garrafeiras, grandes superfícies, nas empresas distribuidoras de vinhos, clubes de vinho ou através da Internet são algumas das alternativas existentes para os enófilos nacionais. Cada uma destas escolhas compreende vantagens e inconvenientes, cada uma apresenta particularidades e peculiaridades que convém destrinçar.

Uma das mais desejadas e valorizadas é a compra directa ao produtor, prática que continua infelizmente a ser relativamente pouco comum em Portugal graças à falta de empenho de produtores e consumidores, falta de empenho que poderá ser assacada às duas facções em partes iguais. Por favor não espere obter descontos expressivos na compra à porta da adega, já que não é essa a filosofia subjacente a esta experiência e a poupança será insignificante ou mesmo nula. Embora nem sempre seja fácil de entender para os visitantes, os produtores têm compromissos assumidos com as empresas que fazem a distribuição dos seus vinhos, não podendo entrar em competição directa com estas, o que os impede de praticar grandes descontos ou atenções especiais aos preços praticados.

Mas continua a ser a melhor forma de conhecer Portugal, de conhecer o vinho e os seus autores, de entender o credo de cada casa, de perceber a filosofia de produção. Em casos especiais, poderá mesmo ter oportunidade de provar vinhos raros, vinhos de colheitas mais antigas ou vinhos que ainda não estão no mercado. É igualmente um excelente pretexto para viajar e para conhecer partes de Portugal distantes das principais vias e dos locais mais costumeiros. Acima de tudo, não se esqueça de marcar a visita com antecipação, porque nem todos os produtores têm estruturas profissionais montadas e nem todos têm as portas abertas em permanência.

As garrafeiras, as lojas especializadas em vinho, são seguramente o local ideal para a compra de vinho, tendo em conta que o aconselhamento será tendencialmente o mais apropriado. Mas também porque os cuidados serão superiores e porque a escolha será a mais diversificada, original e ecléctica. Será certamente o local mais adequado para escolher os vinhos mais raros, sejam eles esotéricos ou de produções muito limitadas, será o local perfeito para encontrar os vinhos mais cobiçados, as edições mais limitadas, os vinhos que são considerados autênticas preciosidades. Na maioria dos casos, contam com proprietários que amam o vinho, que conhecem os vinhos e sabem aconselhar, que sabem recomendar o vinho apropriado para aquela refeição especial que vai dar em casa. Inevitavelmente, os preços costumam ser ligeiramente superiores ao das grandes superfícies, condição que é largamente compensada pelo serviço e selecção proposta.

Ora, as grandes superfícies, aquilo que se denomina distribuição moderna, representam quase três quartos do volume de vinho vendido entre portas, tendo como atracção principal os preços contidos, as ofertas de desconto em volume e a comodidade do momento da compra. A rotação de artigos é rápida, o que torna estas lojas no local ideal para comprar vinhos baratos e de grande volume. As marcas de grande volume e rotação apostam decididamente nestes pontos de venda, podendo oferecer preços e descontos extremamente aliciantes. Não espere, no entanto, uma selecção vasta, boas condições de guarda ou aconselhamento profissional especialmente cuidado.

A distribuição de vinhos é uma figura pouco conhecida em Portugal e em que poucos pensariam como potencial de aquisição. Por definição, não deveria atender a particulares e não deveria prestar vendas directas, mas existem sempre excepções. Eticamente, não deveriam praticar preços inferiores aos do retalho, mas também aqui existem excepções. Os clubes de vinho, sejam eles por catálogo ou por suporte digital, são outras das opções muito valorizadas fora de fronteiras mas que em Portugal continuam a sentir alguma dificuldade de reconhecimento e adesão. A entrega em casa, com o comodismo implícito, é uma das vantagens mais intuitivas, para além do factor surpresa subjacente ao conceito que conduz à descoberta periódica de novos vinhos.

 

 

 

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