Fugas - Vinhos

PAULO RICCA/ARQUIVO

O Porto Vintage não pode parar

Por Manuel Carvalho

O grupo Symington acaba de lançar dois vintage de 2013. Não são de um ano clássico, mas depois de provados constata-se que a diferença já não é o que era. Para quem ousar voos mais altos, a empresa lançou três vintages e dois colheita extraordinários dos anos de 1970.

O que fazer quando a natureza do Douro não é tão pródiga como em 2011 ou em 2007, dois anos de criação de Porto Vintage fora de série? A resposta das grandes empresas do vinho do Porto à incerteza do clima é dada com mais vintage. Mais no sentido de que, como num carrossel, a festa não pode parar, mesmo que, na verdade, se produza menos (muito menos) quantidades do que nos anos clássicos. O grupo da família Symington seguiu esse caminho apostando no lançamento do Senhora da Ribeira, da marca Dow’s, e do já habitual (sai todos os anos) Quinta do Vesúvio de 2013 e o mínimo que se pode dizer é que está cada vez mais difícil notar diferenças de qualidade entre os anos bons e os anos menos bons. 

Pegue-se no exemplo do Quinta do Vesúvio. Durante anos, o que melhor distinguia o perfil deste vinho era o seu elevado teor de doçura, o que exigia anos de espera até que depurasse e se tornasse mais austero e atraente. Pois, seguindo os padrões dos últimos anos, em 2013 o Vesúvio apresenta-se num estilo mais contido e seco, com uma intensidade e riqueza aromática admiráveis, um volume de boca notável e uma estrutura bem harmonizada com uma óptima acidez. É, por isso, um vintage de elevada classe, com uma garra e uma latitude de aromas que o tornam fácil de beber já — mas que dará muito mais prazer após umas décadas de garrafa. Produziram-se 9000 garrafas, que em Portugal terão um preço unitário a rondar os 60 euros.

O Senhora da Ribeira, proveniente da quinta homónima que fica na outra margem do Douro mesmo em frente ao Vesúvio, é de outra estirpe. Há naquela vinha e na forma como a equipa da enologia da Dow’s, comandada por Charles Symington, interpreta a sua natureza algo de especial e permanente. A expressão de aromas, com destaque para a presença de violeta, é nítida, mas sem a intensidade do Vesúvio. Até que na boca todo o potencial deste vinho se exprime pela precisão, pela sensação de elegância, pela harmonia de todas as componentes do vinho (aroma, estrutura, tanino, acidez). Não é um colosso como o Vesúvio, bem mais volumoso e intenso, mas é um vintage com a chancela da Dow’s e isso diz muito. Cada garrafa custará no mercado nacional 55 euros — foram produzidas apenas 4500 garrafas.

E para que o mercado de apreciadores não fique penalizado pela eventual falta de “liquidez”, a Symington juntou a estas novidades uma estratégia que passará pela distribuição em quantidades reduzidas de três vintages e dois Colheita dos anos de 1970 que merecem atenção. Um Dow’s de 1975 que será vendido numa tippit hen (garrafa com 2.1 litros), já marcado pela evolução e que hoje vale pela delicadeza; um 1977 da Warre que está numa forma admirável; e um Graham’s desse mesmo ano mítico que está simplesmente fabuloso, com uma intensidade e uma riqueza aromática e uma presença na boca de grande nível. 

Os Colheita são da Graham’s de 1972 e da Dow’s de 1974. Ambos são notáveis, mas o 1972 é absolutamente extraordinário — seja na sua expressão aromática de fruta cristalizada, chá preto, flor de laranjeira, seja pelo impacto na boca com a sua frescura cítrica ou pelas notas de frutos secos que se prolongam na boca durante imenso tempo. Esta é, sem dúvida, um dos melhores colheita no mercado actualmente. Um tesouro que custa 290 euros. Não é barato, mas dificilmente encontrará outros vinhos no mundo com esta excelência a este preço. 

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