Fugas - Vinhos

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Quinta do Mouro, um mundo diferente

Poderá até parecer apenas mais um pormenor, mas esse pequeno detalhe, e os bons vinhos são feitos da soma de pequenos detalhes que se vão acumulando, a presença física e emocional permanente, o acompanhamento ininterrupto das vinhas e do vinho durante todo o ano, o envolvimento directo e emocional em todas as pequenas decisões constitui seguramente um dos maiores trunfos de Miguel Louro e dos seus vinhos da Quinta do Mouro.

A sua sem-cerimónia é outra das grandes virtudes da casa e que é plenamente reflectida nos vinhos, a dúvida constante que acrescenta aos vinhos da casa em todos os seus detalhes, a incapacidade e falta de vontade absoluta em se deixar reduzir à aceitação de dogmas, a incapacidade total em se deixar acomodar no conforto do tradicional. Posturas pessoais e emocionais que obrigam à experimentação e à procura de alternativas sólidas. Talvez este somatório de razões ajude a explicar algumas das opções menos tradicionais, tal como a aposta teimosa no uso de barricas de carvalho nacional, carvalho português de florestas portuguesas, aposta pouco vulgar que assenta na certeza interior da presença de uma afinidade natural entre os vinhos da Quinta do Mouro e a madeira de origem nacional.

Miguel Louro gosta pessoalmente de vinhos sérios e austeros... e é assim mesmo que os vinhos da Quinta do Mouro se apresentam. Vinhos duros e nada meigos, vinhos tensos e austeros temperados por uma frescura intensa e pouco expectável pela veemência, vinhos amplos e monumentais na estrutura, carnudos e densos. Vinhos que na generalidade mostram ainda uma capacidade de guarda muito significativa que poderá ultrapassar sem grandes dificuldades a barreira dos trinta anos.

Uma das características mais curiosas da Quinta do Mouro é a capacidade rara e quase inexplicável para elaborar vinhos extraordinários justamente nos anos mais difíceis e incaracterísticos. Será mesmo fácil afirmar que, por uma qualquer estranha coincidência, os melhores vinhos da casa nasceram precisamente nos anos em que a maioria dos produtores alentejanos sentiram mais dificuldades, anos menores para a generalidade da produção mas que na Quinta do Mouro costumam ser extraordinários. As colheitas 1999 e 2002, por exemplo, duas colheitas consideradas especialmente desafiantes pela generalidade dos produtores nacionais, retratam dois dos melhores anos de sempre para a casa. Mais uma originalidade entre as muitas da Quinta do Mouro.

 

 

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