Fugas - Vinhos

Os novos brancos e a nova vida da Quinta da Pacheca

Por Pedro Garcias

Uma propriedade do Douro que está a renascer das cinzas e a crescer de forma meteórica.

O pretexto foi o lançamento de um novo vinho branco, mas o almoço que o francês Philippe Renard (duas estrelas Michelin) e o português Carlos Pires confeccionaram a quatro mãos no passado dia 19 na Quinta da Pacheca, em Cambres, Lamego, serviu também para mostrar que esta famosa propriedade do Douro está a renascer das cinzas e a crescer de uma forma meteórica. Em apenas três anos, a Quinta da Pacheca deixou de ser uma empresa familiar sufocada em dívidas para passar a ser uma empresa pujante, compradora de uvas e de vinhos e com um massivo crescimento de vendas.

Comprada em 2012 à família Serpa Pimentel pelo casal de emigrantes Paulo Pereira e Maria do Céu Gonçalves, proprietários da Agribéria, a principal cadeia distribuidora de produtos portugueses em França, a Quinta da Pacheca facturou no ano passado 4,3 milhões de euros, dos quais três milhões em vinhos, e espera alcançar este ano os cinco milhões de euros. A quinta, com cerca de 50 hectares de vinho e um hotel, foi comprada por sete milhões. Antes de vender a Pacheca, a família Serpa Pimentel comercializava entre 80 e 90 mil garrafas. Agora, as vendas rondam as 800 mil garrafas.

Para fazer face às crescentes necessidades de produção, os novos proprietários da Pacheca já arrendaram o enorme centro de vinificação da Quinta do Castelinho, em frente à Régua, e estão interessados em fazer novos investimentos na região. Para já, estão a construir dois hotéis: um em Orléans (França) e outro, uma guest house, no Porto (deve abrir ainda este ano).

Apesar de terem vendido a totalidade da Quinta da Pacheca, os anteriores proprietários continuam a habitar na casa principal. Maria Serpa Pimentel manteve-se como enóloga e o irmão, José Serpa Pimentel, continua na parte comercial, agora sob a direcção de Maria do Céu Gonçalves, que é quem tem assumido a gestão da quinta. Esta convivência foge um pouco da normalidade, mas Maria Serpa Pimentel garante que o relacionamento entre as duas famílias é o melhor possível, enaltecendo o dinamismo e a visão mais global que os actuais proprietários trouxeram.

Os novos ventos que sopram na Quinta da Pacheca estão a estender-se aos seus vinhos, que, depois de um início muito prometedor, foram perdendo algum fulgor e estagnando. A palavra agora é vender muito e cada vez melhor. A criação do novo Pacheca Branco Superior (8,95 euros) encaixa-se nesse objectivo.

Para a apresentação do vinho, Paulo Pereira e Maria do Céu Gonçalves desafiaram o chef francês e amigo Philippe Renard a ir cozinhar ao Douro com o chef residente do hotel da Quinta da Pacheca, Carlos Pires. A refeição, muito marinheira, confirmou o virtuosismo do chef francês e o talento do chef português e fez realçar todo o potencial do novo vinho, um lote de Gouveio, Viosinho, Códega do Larinho e Fernão Pires. Como estagiou apenas três meses em barricas de carvalho francês — “Não gosto dos vinhos muito marcados pela madeira”, sublinhou Maria Serpa Pimentel —, é um branco ainda um pouco indefinido. Nesta fase, apesar da sua expressividade aromática (dominada pelas notas cítricas e florais) e, sobretudo, da sua excelente frescura de boca, ainda acusa a passagem pela madeira, que precisa de ser um pouco mais bem integrada. Mas mais algum tempo em garrafa vai fazê-lo crescer bastante e torná-lo ainda mais apetecível tanto como vinho de Verão como branco de Inverno. 

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