Fugas - Vinhos

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Alentejo, terra de diversidade

A diversidade dentro da região é tal que, no mesmo território administrativo, podemos encontrar lavouras de sequeiro, longas planuras quase despojadas de coberto vegetal e em situação quase pré-desértica até manchas alentejanas fortemente arborizadas, ocupadas não só por montado mas também por manchas de pinhais e olivais. Em áreas mais específicas chega-se ao limite de encontrar largas tranches do território dedicadas ao cultivo do milho e arroz, duas das culturas agrícolas mais exigentes e devoradoras de água.

Sim, é verdade que é possível descobrir propriedades alentejanas de dimensão imensa na amplitude territorial, pelo menos quando apreciadas à escala nacional, herdades e montes onde em alguns locais se estendem extensões de vinhedos a perder de vista, apesar de nem todas as vinhas alentejanas se incluírem na mesma dimensão. Cada vez mais abundam as pequenas vinhas e os produtores de dimensão modesta no volume, pequenas explorações que se entregam a escalas de produção mais comedidas. Movimento que é especialmente visível nas vinhas da serra de São Mamede, em Portalegre, região onde as vinhas dispersas são a norma e onde a propriedade se encontra profundamente emparcelada.

No Alentejo existem muitas vinhas jovens e modernas na concepção, conduzidas segundo as técnicas mais recentes e por vezes radicais, envoltas numa macedónia de variedades clássicas alentejanas, castas portuguesas vindas de outras regiões e variedades estrangeiras que em alguns casos mostraram uma adaptação brilhante. Mas também avistamos pequenas parcelas de vinhas plantadas de formas mais tradicionais, algumas delas velhas ou muito velhas, pequenos vinhedos diminutos na vastidão territorial mas importantes pela preservação do património genético do passado, o único garante de um futuro ainda mais promissor.

Algumas destas vinhas e variedades continuam ainda hoje a ser desvalorizadas, apesar de se começarem a sentir os primeiros ventos de mudança numa tentativa de resgatar do esquecimento esta riqueza suspensa. Quantas castas alentejanas, quantas variações e quantos clones foram perdidos durante a malfadada campanha cerealífera do Estado Novo? E quantas castas poderíamos ainda resgatar do esquecimento se prestássemos atenção ao património genético que ainda resiste em muitas destas vinhas velhas, algumas delas em estado de relativo abandono?

Mais que um único Alentejo, deveríamos antes falar do Alentejo como uma região que se singulariza pelas múltiplas personalidades e pelas diferenças notáveis entre as sub-regiões. Os vinhos alentejanos estão muito longe de apresentar um discurso clássico e monocórdico. 

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