Mas tal como existem vinhos industriais de perfil absolutamente asséptico, também existem vinhos auto-intitulados naturais que revelam um perfil rebarbativo e repleto de pequenos e grandes defeitos que há muito julgávamos ultrapassados. Não basta acenar com a bandeira da alegada pureza de processos para que os vinhos passem automaticamente a ser graciosos. Seria maravilhoso e poético que os vinhos naturais conseguissem ser maravilhosos só pelo conceito filosófico em si… mas infelizmente a realidade costuma ser bastante mais cruel que as boas intenções.
Sim, existem vinhos naturais excelentes, tal como existe uma maioria de vinhos que se colocam fora do guarda-chuva dito “natural” que alcançam o mesmo patamar de excelência. Mas a maioria dos vinhos naturais continua infelizmente a apresentar-se como uma montra de problemas e defeitos, cobrança natural de práticas duvidosas que só a fé pode sancionar. Defeitos e problemas que seriam suficientes para crucificar qualquer vinho “normal” mas que são automaticamente perdoados e em muitos casos até valorizados quando aplicados aos vinhos ditos naturais.
Agricultura sustentável, viticultura orgânica e demais procedimentos de responsabilidade ambiental na prática agrícola da vinha são fundamentos que não só não merecem qualquer contestação como são merecedores dos maiores louvores e entusiasmo, devendo ser incentivados. Tudo aponta para um aprofundamento dessa direcção, desde a responsabilidade que temos para com as próximas gerações como na qualidade da fruta consequente das práticas da agricultura orgânica. Cada vez mais produtores e viticultores aderem a modelos de regime de protecção e produção integrado, agricultura orgânica ou biodinâmica.
Mas a agricultura sustentável e a responsabilidade ambiental não devem ser confundidos com a produção de vinhos ditos naturais. Se a agricultura orgânica é mais que desejável ,o conceito é muito mais estrito na adega. A vinha é do domínio da natureza… mas a adega é do domínio do homem. Todas as intervenções na adega representam isso mesmo, uma intervenção humana que impede o vinho de seguir maus caminhos e de acabar em vinagre ou algo pior. O vinho é uma criação sublime da civilização, não da natureza.