Fugas - Vinhos

Paulo Ricca

Vinhos que expressam “um lugar incrível e único” nas margens do Douro

Por José Augusto Moreira

A Quinta de La Rosa começou a produzir vinhos do Porto em 1815 e foi das primeiras quintas a engarrafar vinhos DOC na região. Mesmo brancos, que um consultor da Borgonha dizia que nunca poderiam ter grande qualidade. A realidade desmentiu-o e há que os provar para que não restem dúvidas.

Não passa de mera curiosidade, mas pode dizer-se que terá sido o chá que deu origem à Quinta de La Rosa, a bela propriedade da margem direita do Douro, ali mesmo colada ao Pinhão. Não. Não se pense que se tentou produzir chá no Douro, ou que alguma vez se pensou em tal coisa. A história é bem mais prosaica e há que procurar outras paragens e recuar bastante no tempo, até à época em que o tetravô da actual proprietária, Sophia Bergqvist, era o burgomestre de Hamburgo. Foi nessas funções, e por cortesia diplomática, que então recebeu Napoleão, a quem ofereceu chá. O certo é que o gesto foi de tal forma mal visto pela sociedade de então que a família acabou por ter de rumar a outras paragens, acabando por se fixar no Sul de Espanha, mais propriamente em Jerez, onde, naturalmente, se dedicaria ao negócio do vinho.

Aqui chegados, já se começa a entender o nome dado à quinta do Douro e o resto não é também muito complicado. Basta ver os vários apelidos e companhias de origem anglo-saxónica que ao longo dos tempos se cruzam nos negócios dos vinhos fortificados entre os Jerez e os Porto. Desvendada a atracção pelo Douro por parte dos antepassados de Sophia, há que dizer que se tratou do ramo Feuerheerd, que começou a produzir vinho do Porto a partir de 1815. A empresa acabaria por ser vendida à Barros Almeida em 1935, e ainda hoje é possível encontrar em algumas garrafeira ou na posse de coleccionadores belos vinhos do Porto com o rótulo da Feuerheerd. 

Apesar da venda da empresa, a Quinta de La Rosa manteve-se sempre na posse da família. As uvas iam em regra para a produção da Sandeman, até que, em 1988, Sophia e o seu pai, Tim Bergqvist, decidem recomeçar o negócio de família. É assim que surge no mercado a Quinta de La Rosa, com vinhos do Porto que rapidamente conquistaram o reconhecimento do mercado e dos especialistas.

Sophia confessa que foi muito por influência de David Baverstock, o enólogo australiano desde sempre ligado ao projecto Esporão, que se aventuraram na produção de vinhos DOC Douro. “David queria fazer vinho de mesa no Douro. Fomos dos primeiros na região e foi logo um enorme sucesso. As encomendas, o reconhecimento e os prémios começaram logo a chover, principalmente de França e Inglaterra.” 

Com os brancos, passou-se mais ou menos a mesma coisa, isto apesar de há cerca de uma década ter sido pedido aconselhamento a um consultor da Borgonha, que terá dito que com as condições extremas do Douro nunca ali se poderiam fazer bons vinhos brancos. “David contrariou-o e os resultados estão à vista”, rejubila Sophia.

Jorge Moreira, que desde 2002 assumiu a direcção da enologia e viticultura de La Rosa, confessa que a quinta o tem marcado profissionalmente, isto apesar dos seus sucessos com o projecto Poeira e a grandiosidade da Real Companhia Velha, onde igualmente é responsável pela enologia. “De La Rosa é um lugar incrível, marcante e único e o que procuramos é que os vinhos mostrem essas características”, frisa. 

As onze vinhas que compõem a propriedade, todas de letra “A”, a classificação máxima no Douro, estendem-se ao longo das margens com exposição sul-este e vão desde o nível do rio até aos 400 metros de altitude, com as variedades tradicionais da região. A produção actual ronda os 80 mil litros de vinhos do Porto e mais de 200 mil de vinhos de mesa. “Temos equilíbrio, temos diversidade e conseguimos boas maturações. Os vinhos são sempre bonitos, aromáticos, mas falsamente simples. Há volume, concentração e estrutura. Têm tudo com equilíbrio, com generosidade e a beleza da fruta. É o Douro”, conclui o enólogo.

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