Fugas - Vinhos

Greg Wood/AFP

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Vinhas históricas

Sem a tenacidade e o empenho pessoal de Antonio Mastroberardino em recriar as vinhas de Pompeia seria muito provável que já se tivessem perdido as castas antigas de origem grega que eram tradicionalmente usadas na região, variedades como o Aglianico, Greco di Tufo e Fiano d’Avellino, castas que entretanto voltaram a ganhar popularidade e notoriedade face à evidência qualitativa que demonstraram nesta vinha.

A vinha foi plantada utilizando as técnicas, compasso e formas de condução usadas há mais de dois mil anos segundo as inscrições nos frescos e os manuais de viticultura escritos por figuras como Plínio e Columella, autor de um tratado de agronomia e viticultura que é geralmente considerado como o documento técnico de viticultura mais antigo do mundo. Seguindo as indicações pormenorizadas por estes dois autores clássicos foram seleccionadas exactamente as mesmas castas do passado, recuperando variedades esquecidas como o Piedirosso e o Sciascinoso.

Foi seguida a densidade recomendada, oito mil plantas por hectares, amarradas a estacas de castanheiro e plantadas no mesmo local onde existiu uma das vinhas originais. O vinho continua em produção e todos os anos se enchem cerca de um milhar e meio de garrafas deste projecto histórico que permitiu recuperar variedades que muito provavelmente já teriam desaparecido do mapa.

Apesar de Mastroberardino seguir à letra a maioria das tradições e técnicas descritas nos tratados de Plínio e Columella… decidiu saltar algumas das receitas enológicas indicadas. Sim, o vinho continua a ser fermentado em ânforas de barro enterradas no solo, sofre macerações muito prolongadas, envelhecimento igualmente prolongado e não é filtrado antes de ser engarrafado.

Mas Mastroberardino preferiu descartar a sugestão de acrescentar ratos ou as suas cinzas ao mosto, tal como decidiu afastar a ideia de temperar o vinho com ervas aromáticas e outras especiarias para acrescentar sabor. Da mesma forma decidiram não revestir as talhas com resina, como faziam os romanos, já que o resultado adulterava o sabor do vinho para algo demasiado aproximado aos vinhos gregos conhecidos como Retsina.

O vinho “moderno”, chamado Villa dei Misteri, é um vinho tinto opaco, duro, austero, especiado, taninoso e intenso que poderia facilmente ter sido guardado na adega durante mais um bom par de anos. Uma parte significativa da muito limitada produção é vendida em leilão com as verbas a serem reservadas para a renovação da vinha e restauro de Pompeia.

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