Fugas - Vinhos

Enric Vives-Rubio

Continuação: página 2 de 2

A importância de um rótulo

Poucos aplicaram a mensagem de forma tão intensa e apaixonada como o famosíssimo produtor Bartolo Mascarello, um dos defensores mais prolíficos e mediáticos da preservação da tradição clássica de Barolo. Um dos seus vinhos mais conhecidos e mais procurados, o No Barrique, No Berlusconi, apresentava-se com um rótulo desenhado à mão que alertava contra o uso de barricas bordalesas novas na elaboração do vinhos de Barolo, quando a tradição privilegiava a utilização de tonéis grandes e de madeira avinhada… e contra as políticas do absurdo Berlusconi, que naturalmente desprezava. Num outro rótulo igualmente pintado à mão, evocou o espírito revolucionário de Robespierre, sugerindo que a madeira não devia ser desperdiçada em barricas… mas antes em barricadas.

Muito menos elaborados, mas seguramente muito mais provocatórios, os rótulos do produtor Alessandro Lunardelli, também ele italiano, conquistaram aquilo a que o produtor se tinha proposto, um espaço mediático de repercussão mundial. Os primeiros rótulos de figuras da história recente já tinham criado algum desconforto, quando libertou uma série de vinhos exibindo as caras de Mussolini, Lenine, Estaline ou Che Guevara em poses mais ou menos dramáticas, conforme a personagem. Mas o verdadeiro estrondo surgiu quando lançou uma nova edição ostentando a figura de Hitler debaixo do nome “Um povo, um império, um líder”. Assim que os rótulos foram proibidos pelo governo alemão, e mais tarde pela União Europeia, o vinho ganhou o estatuto de culto esperado, assegurando assim a visibilidade extrema a que o autor se tinha cometido.

--%>