Foi então que surgiu Orlando Lourenço, o homem que hoje associamos à Murganheira, estudioso dos vinhos espumantes, enólogo e visionário do potencial das Caves Murganheira. Em parceria com três sócios adquiriu a empresa, transformando-a na referência de facto dos vinhos espumantes portugueses. A empresa mudou de rumo, dedicando-se quase em exclusivo aos vinhos espumantes de qualidade, investindo, investigando e guardando stocks brutais de vinho que repousam nas caves subterrâneas. Orlando Lourenço é, e há que reconhecê-lo sem pompa mas com circunstância, o grande obreiro das Caves Murganheira.
Uma revolução feita apenas com pouco mais de 25 hectares de vinha plantada junto à adega reservada para os múltiplos ensaios com as castas consideradas mais nobres. Para além desta vinha própria, a Murganheira gere uma rede de mais de quinhentos viticultores locais, um labirinto de pequenos e grandes fornecedores que transformaram as caves da Murganheira num dos principais sustentos económicos de uma região empobrecida.
Por opção, filosofia e convicção, a idade mínima de estágio em cave são dois anos, categorias doces e meio-secos incluídas! Como será fácil concluir, não é nada intuitivo conseguir garantir retorno financeiro numa operação com custos fixos de imobilizado tão elevados mas é o preço que a Murganheira se obriga a pagar pela obsessão manifesta com a qualidade. Não é fácil conviver com este hiato temporal, com o desfasamento entre a experimentação e a produção, com o intervalo entre a renovação de um lote e a posterior comercialização. Qualquer mudança efectuada hoje, na colheita 2015, independentemente de serem mudanças mais radicais ou mais subtis, só poderão ser apreciadas pelo consumidor já perto do ano 2022 ou, no caso dos vinhos de estágio mais prolongado, em 2025!
Nenhuma outra casa portuguesa se atreve a guardar os espumantes em cave durante tantos anos pelo risco enológico e pela dificuldade financeira a que tal operação obriga. Poucas outras casas conseguem oferecer espumantes tão velhos e com tanto tempo de estágio. Poucas outras casas conseguem oferecer a complexidade que só o tempo, o repouso e o contacto prolongado com as leveduras de segunda fermentação podem acrescentar. Porquê perder tempo com champanhes de gama baixa e média quando pode encontrar alguns espumantes portugueses bem melhores?