Fugas - Vinhos

Fernando Veludo/nFactos

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Anselmo Mendes na primeira pessoa: "A vida é feita de experiências"

Em 1997, com a compra de uma pequena propriedade em Melgaço, começo um projeto próprio. As primeiras garrafas saem em 1998 com a marca Muros de Melgaço, como fruto de intenso estudo da fermentação e estágio em madeira.
A casta Alvarinho é a minha vítima, e o conhecimento de dezenas de parcelas permite-me ter, ao longo do vale do Minho, uma “radiografia” de diferentes perfis de vinhos brancos da casta. Por tudo isto, consigo ter bem claras as distinções entre dois Alvarinhos: o Muros Antigos, associado a vinhas de encostas de Melgaço, com solos de textura franco-arenosa; e o Contacto, ligado aos solos de aluvião com pedra rolada de Monção. Claramente, são vinhos de terroir, a adega apenas permite afinar todo o conhecimento de enologia e potenciar o conhecimento vitícola. Surgem entretanto outros vinhos com o Curtimenta, Parcela Única e o Expressões que conjugam os dois conhecimentos da vinha e da adega.

Hoje, o culminar de todo o meu estudo passa por constituir uma “biblioteca viva” de vinhos. Para isso, temos ao longo do vale do Minho 50 parcelas identificadas pela sua altitude, textura de solo, exposição, etc., com vinificações separadas para formar o puzzle dos diferentes perfis de vinhos brancos da casta Alvarinho em todo o vale do Minho, Monção/Melgaço e partes do concelho de Valença. Todos os anos repetiremos estas vinificações para, não só estudar os diferentes perfis de vinho, mas igualmente a sua capacidade de envelhecimento.

Mas, a partir de 2005, achei que seria redutor só estudar o Alvarinho Monção/Melgaço. Duas castas fascinam-me igualmente: o Loureiro e o Avesso. Quanto ao Loureiro do vale do Lima, comecei o seu estudo em 1997 e, em 2005, lancei o primeiro Muros Antigos Loureiro. Hoje exploramos 40 hectares divididos em cinco quintas ao longo de todo o vale desde de Ponte de Lima a Viana do Castelo. Ultrapassamos a área do Alvarinho, que entre Monção e Melgaço é de 15 hectares, mas deverá atingir os 37 hectares em 2017. Temos plantado também algum Alvarinho ao longo do vale do Lima para avaliar o seu potencial num clima de maior influência atlântica. Os resultados são surpreendentes. Quanto ao Avesso, a partir de 2008 começámos o seu estudo e concluímos que a sua expressão máxima está em Baião, na margem direita do Douro e no vale do rio Teixeira. É uma casta “avessa”, mas, sem dúvida, que dentro de algum tempo estará no elenco das grandes castas portuguesas.

A história recente dos Vinhos Verdes resume-se a partir dos anos 60 do século XX a uma inversão brutal, passagem de tinto para branco. O tinto que restou transformou-se na epidemia de um só vinho a partir da casta Vinhão.

Como oriundo de Monção, não me conformo com este desiderato, pois Monção foi famoso no século XIV pelos seus vinhos tintos que se chamavam Parduscos. Reeditei um Pardusco em 2012 com base na casta Alvarelhão (Brancelho em Monção). Estará para sair um Pardusco Private 2012 baseado em Alvarelhão e Alvarinho fruto do estudo destas duas castas com estágio com barricas usadas de carvalho francês. A casta Alvarelhão está para Monção como o Pinot Noir está para a Borgonha. Também o estudei para espumante e tem um comportamento brilhante.

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