Fugas - Vinhos

ENRIC VIVES-RUBIO

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Os vinhos de Lisboa

Quando o volume deixou de ser um desígnio nacional para se apostar na qualidade, quando o conceito de qualidade e individualidade se instalaram como objectivos definidos, Lisboa foi a região mais célere e entusiasta a adoptar a instalação de castas estrangeiras, variedades de reputação internacional, entre as quais se contavam Cabernet Sauvignon, Merlot ou Chardonnay.

Uma vez mais, quando o mercado e a estratégia dominantes passaram a advogar um caminho de afirmação das castas nacionais, a região de Lisboa, sem complexos de inferioridade e com uma sagacidade notável, inflectiu caminho, apostando nas melhores e mais conhecidas castas nacionais, mesmo que oriundas de outros paradeiros do território. Foi assim que entraram em cena castas como a Touriga Nacional, Touriga Franca, Aragonês ou Alvarinho numa lista que se estende quase até à exaustão.

Apesar dessa resiliência e capacidade de adaptação, a região de Lisboa continua a ser assolada por um conjunto significativo de dificuldades. Por um lado, o abandono do volume e a reconversão aos desígnios da qualidade está longe de gerar consensos ou de se ter transformado num conceito universal aceite por todos. O volume de vinho indistinto continua a ser a filosofia de um grupo significativo de produtores. O movimento cooperativo está de rastos, de resto tal como noutros pontos do país, chegando ao ponto de falência técnica em demasiadas ocasiões. O capital não abunda e ainda subsiste uma agricultura de fim-de-semana que pesa no desenvolvimento da região. Mas a pior notícia é que alguns dos principais agentes económicos continuam a ter dificuldade em acreditar no futuro da região.

Alenquer continua a apresentar-se com o centro nevrálgico da região de Lisboa, pulmão e coração da região, eixo central por onde decorre uma parte substancial da actividade vinícola. É o centro nevrálgico da qualidade, do renascimento da região, o motor que impele o desenvolvimento. Mas para além de Alenquer têm de surgir mais denominações de excelência.

Entre os grandes nomes da região de Lisboa encontram-se três produtores que retratam de forma notável três sentimentos e três diferentes sensibilidades, três horizontes que convergem pela qualidade e pela presença de três famílias. São eles Quinta de Chocapalha, a Quinta de Sant’Ana e a Quinta do Monte d’Oiro. Três produtores que representam uma imagem notável do potencial da região, do que pode ser e de como se pode converter a região de Lisboa.

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