Quer o Coroa d’Ouro de 1992, quer o de 1997, testemunham já um acréscimo de complexidade com o recurso crescente a uvas mais maduras das zonas mais quentes do vale. O 1992 está numa boa forma, com um perfil muito clássico, aromas fumados e balsâmicos, uma textura na boca interessante e uma surpreendente acidez no final de boca. O de 1997 vai ainda mais longe, apresentando um aroma fantástico, com fruta, especiaria e chá preto, embora na boca se apresente menos tenso e vibrante do que o seu par cinco anos mais velho. O seu sucessor na prova organizada pela Poças para celebrar os 25 anos das suas chancelas de DOC Douro, de 2000, estava ainda mais plano. Mas cinco anos mais tarde, a empresa consegue criar um verdadeiro monumento à excelência e à longevidade dos tintos durienses. O Coroa d’Douro de 2005 exala um aroma de enorme elegância e subtileza e na boca apresenta uma estrutura harmoniosa, com tanino polido mas firme, profundidade e uma admirável persistência. O 2007 conserva o mesmo estilo, mas sem conseguir no entanto o mesmo balanço e grandiosidade do seu antecessor que é, de facto, um belíssimo vinho.
Na prova, houve ainda oportunidade para se conhecer o estado actual dos Poças Reserva de 1992, 1997, 2000, 2005 e 2007. No geral, conservam as qualidades do Coroa d’Ouro e, como seria de esperar, amplificam até alguns dos seus atributos. O 1992 está cheio de garra, o 1997 é um vinho sisudo, fechado e austero, que exige comida forte para se apreciar, o 2000 supera de longe o Coroa d’Ouro da mesma edição e, uma vez mais, o 2005 é o caso mais sério. Na sua fase actual, mostra aromas de fruta de excelente fineza e recorte e notas florais. Na boca é prodigioso. Elegante, com sugestões de chocolate preto na prova e um final especiado e complexo, apresenta um volume de boca notável e uma persistência extraordinária. É, sem dúvida, um vinho de altíssima qualidade, a merecer reconhecimento junto de alguns dos grandes tintos do Douro.
Deixada no passado a predominância de uvas moderadamente maduras, a hegemonia da vinha tradicional ou dos lotes de Touriga Franca (que ainda assim continua a ser dominante nos DOC Douro), a Poças aposta em acompanhar os padrões da modernidade dos vinhos do Douro, mas não abdica da sua própria maneira de interpretar o potencial da região. “No Douro, por vezes os vinhos ficam muito maduros, o que os torna cansativos”, diz Jorge Pintão. Uma maior tolerância à acidez natural e uma menor abertura a uvas muito doces e maduras continuará a ser a prática corrente da casa. O Coroa d’Ouro ou o Vale de Cavalos de 2013 comprovam essa dedicação. São vinhos com poder de impacte nos sentidos, mas mais pela estrutura e pela acidez do que pela extracção de álcool e fruta. Quer isto dizer que, no futuro, há fortes probabilidades de repetirem a façanha do envelhecimento de edições como a de 1990, 1992 ou 2005.