Fugas - Vinhos

Adriano Miranda

Continuação: página 2 de 2

Touriga Nacional

Porém, os tempos mudaram e hoje assistimos a uma crescente valorização individual das castas, assumindo preocupações que não conhecíamos do passado. Depois de um período febril de experimentação no final da década de noventa, a maioria dos produtores chegou a conclusões mais ou menos consensuais. Entre essas conclusões encontrava-se a mais-valia da Touriga Nacional, casta que rapidamente foi eleita como um símbolo do Portugal moderno.

As razões para tal são fáceis de enumerar, dividindo-se entre o perfume inebriante, o imediatismo e pujança dos aromas dominantes, a frescura, elegância e equilíbrio geral que proporciona aos lotes. Mas são essas mesmas marcas que outros reprovam, nomeadamente a sua vocação de protagonista para dominar o perfil aromático dos vinhos, impondo a vontade da Touriga Nacional sobre as restantes castas do lote. Muitos temem o risco de descaracterização que o seu uso intensivo poderia acarretar ajudando a uniformizar os vinhos tintos nacionais, que acabariam assim por depender mais dos predicados da Touriga Nacional que da individualidade das regiões. Se as preocupações são naturais, dificilmente será compreensível que um país queira renegar ou desacreditar aquela que é universalmente aceite como a sua melhor casta tinta.

A Touriga Nacional dificilmente será a salvação de Portugal, tal como dificilmente se poderá imputar tal tarefa a uma só casta, por muito notável e eficiente que seja. A imagem do vinho português constrói-se da diversidade e dos pequenos paradigmas em que somos férteis. A Touriga Nacional é apenas mais uma das muitas ferramentas a ser usada na difícil promoção internacional da excelência do vinho nacional. 

--%>