Apesar da sua existência centenária, poucas vezes a designação de Quinta Nova poderá ter parecido tão apropriada aos resultados duma colheita como é o caso da vindima de 2013, cujos vinhos estão no mercado desde finais de Outubro. Num ano atípico e cheio de dificuldades e desafios, o resultado mostra que é, acima de tudo, a natureza que manda nos vinhos e que é nas condições adversas que se revela o verdadeiro potencial da videira.
Os vinhos que agora estão à disposição do consumidor são de uma rara finesse e profundidade, resultado das características das vinhas e das condições climatéricas, mas também do trabalho das equipas de produção e de enologia, que souberam tirar o melhor partido das adversidades.
Mas, e aqui é que poderá estar a novidade, o que os vinhos de 2013 da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo parecem mostrar também é um novo perfil, numa evolução que vai no sentido da elegância e profundidade dos vinhos, num estilo mais contido e subtil. Características que estão bem evidentes nos topo de gama Mirabilis — prescindindo da exuberância que os caracterizavam —, mas também nos Reserva e Grande Reserva, que se mostram agora aliviados de excessos de concentração e estrutura, mais frescos e elegantes. Foi uma colheita atípica, é certo, mas há também algo que parece mesmo novo nesta colheita da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo.
Luísa Amorim, a responsável do Grupo Amorim para o sector vinícola, apelida-a de “colheita enigmática” e lamenta a baixa de produção, com apenas 2800 quilo de uva por hectare, uma quebra de cerca de 35% em relação à média de anos anteriores, e as dificuldades acrescidas no trabalho, tanto na vinha como na adega.
Mas nem sempre às dores de cabeça dos gestores correspondem contrariedades para os enólogos. “Obrigado pela baixa produção e obrigado pela avaria no sistema de rega”, diz Jorge Alves, que na Quinta Nova faz equipa com Sónia Pereira. Os enólogos destacam uma acidez muito boa e uma extraordinária capacidade de envelhecimento que mostram os vinhos desta colheita de 2013. Com poucos bagos por videira e em stress permanente pela falta de água — o sistema esteve avariado — resultaram vinhos “com uma estrutura muito linear e precisa, que lhe acentua o carácter de equilíbrio”.
Num ano muito atípico na região, com chuvas nas épocas de floração e de vindima e com secura e calor extremos ao longo do Verão, na Quinta Nova destacam, por isso, as características distintivas do seu terroir com 42 parcelas de socalcos, terraços e vinhas ao alto num total de 85 hectares de vinha. Fruto da específica localização, durante o mês de Agosto as uvas suportaram temperaturas entre os 48 e 50 graus, mas durante a vindima, entre 7 de Setembro e 5 de Outubro, toda a vinha foi poupada pela chuva, ao contrário do que aconteceu na generalidade do Douro.
A par do perfil equilibrado e elegante dos Mirabilis (branco e tinto), merece destaque o Grande Reserva Referência, resultante de um lote de vinha velha e de Tinta Roriz (75%), austero e sedutor, resultado da boa acidez e tanino seco. Também o Grande Reserva é expressão da elegância de vinhas velhas, onde predomina a Touriga Nacional, o primeiro clone da castas a ser plantado no Douro há 45 anos.
A Quinta Nova registou em 2014 um volume de vendas de 2,3 milhões de euros, o que representa um aumento de 18% em relação ao exercício anterior. A exportaçãocorresponde já a mais de metade das vendas para 29 mercados diferentes, com destaque para os EUA e o Brasil. Além da produção e comercialização dos vinhos, a componente do turismo da propriedade assume também uma importância crescente.
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