Fugas - Vinhos

Adriano Miranda

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Um problema geracional?

Pior, apesar de as vendas ainda se manterem relativamente estáveis não é difícil perceber, porque existem informações estatísticas separadas por grupos etários, que a base se está a estreitar e que a idade média do comprador continua a aumentar. E se as gerações acima dos quarenta não forem mais cedo ou mais tarde substituídas pelas gerações subsequentes a base demográfica será erodida progressiva mas garantidamente destapando uma crise endémica da qual será eventualmente tarde de mais para sair.

Os caminhos e eventuais soluções não são óbvios nem são únicos. O vinho do Porto rosé foi pensado como uma alternativa para rejuvenescer a imagem do vinho do Porto e para tentar assegurar uma base sólida que pudesse ser usada na elaboração de cocktails. Os resultados da operação não são conclusivos, mas aparentemente não conseguiram atingir os objectivos a que se tinham proposto. Mas a ideia de tornar o vinho do Porto como um vinho cocktail friendly merece atenção, estudo e alguma imaginação. Jerez tem investido fortemente nesta área e, depois de ter sido declarada morta, a região começa a renascer no mercado norte-americano precisamente como vinho base para cocktails.

O rejuvenescimento da imagem, nomeadamente na rotulagem e no uso de garrafas mais modernas, é outra das necessidades, que em abono da verdade já começou a ser encarada com seriedade. A simplificação será outra das prioridades num universo que pode ser supinamente complicado para os não iniciados. A promoção e incentivo na utilização de copos “normais”, copos de vinho tinto em lugar dos copos pequenos que têm sido indicados, é outra das mensagens essenciais para a simplificação e facilidade de consumo. Para além da evidência, claro, que um copo grande leva sempre maior volume que um copo pequeno, com as vantagens inerentes ao facto. Acima de tudo, é fundamental desmontar a imagem que os vinhos fortificados são vinhos de gente séria que devem ser bebidos com um ar grave e meditativo. São vinhos extraordinários que podem e devem ser desfrutados da forma que apetecer a quem os vai beber.

Por ora, o problema da falta de interesse das gerações mais jovens sobre os vinhos fortificados ainda não é apavorante. Mas convém começar a pensar em formas de inverter esta situação antes que ela se torne demasiado pesada…

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