Se quiséssemos manter o paralelismo com o vinho do Porto, seria interessante poder contar com recursos e estratégias semelhantes, uma capacidade de comunicação, influência, luxo e associação a momentos de prestígio que transformassem o vinho do Porto no equivalente fortificado ao mundo mais leve, solto e despreocupado do Champagne. Como seria bom poder assistir a um fenómeno comparável com os produtores de Champagne dentro do universo do vinho do Porto, um mundo em que as guerras de preços não fossem uma constante e onde a depreciação não surgisse por iniciativa própria, onde os viticultores ganhassem dinheiro distribuindo riqueza pela região e pelas famílias, onde a região prosperasse e se sentisse uma vontade real de servir um bem comum.
Como seria bom assistir à defesa de um dos vinhos mais originais e extraordinários do mundo, reservando-se o direito e capacidade para preservar a originalidade e exclusividade dos designativos da região. Recorde-se que Champagne é a região mais litigante do mundo, não hesitando em batalhar numa estratégia agressiva para defender o nome Champagne e demais adjectivos e derivados de possíveis apropriações por parte de qualquer outro país, região ou produtor.
Apesar de se produzirem vinhos espumantes no mundo inteiro segundo o mesmo método seguido na região, o chamado método tradicional que não pode ser referido com “champanhês”, nenhuma outra região consegue rivalizar com a fama e o proveito de Champagne. Ainda menos com os preços e as margens da região, já que todas as reproduções são comercializadas a preços muito mais comedidos onde o factor preço é com frequência a causa determinante para a escolha.
Como seria interessante que o mesmo se passasse com o vinho do Porto, cada vez mais assediado por cópias australianas, sul-africanas e californianas de vinhos tipo Porto que cometem o “desplante” de atingir preços e destaques muito semelhantes ou mesmo superiores aos melhores exemplares do verdadeiro vinho do Porto. Uma realidade pouco alegre que merece reflexão e que deveria fazer reflectir o sector, e sobretudo o tecido produtivo, que continua dividido e sem uma estratégia comum para promover de forma concertada o nome tão extraordinário do vinho do Porto.