Fugas - Vinhos

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Os novos vinhos de um velho produtor do vinho

Por José Augusto Moreira

A Quinta Dona Matilde tem uma história associada a quatro gerações da família Barros. Porque os vinhos precisam de tempo, foram agora lançados os tintos da colheita de 2011.

Pode um novo produtor do Douro ser ao mesmo tempo um dos mais antigos e consolidados da região? A questão pode parecer contraditória mas a resposta é, claramente, sim. Ou melhor, a resposta é Dona Matilde, uma propriedade que já integrava a demarcação original de 1765, ordenada pelo Marquês do Pombal, mas só com as colheitas mais recentes é que se assumiu como produtora com identidade própria.

A história tem, ainda, um pouco mais de enredo. A quinta, durante longo tempo conhecida por Enxodreiro, foi adquirida em 1927 por Manoel Barros, integrando assim o património da Barros & Almeida, histórica empresa de vinho do Porto que fora fundada em 1914. Foi no tempo do neto Manuel Ângelo Barros, em 2006, que a propriedade, já com a denominação Dona Matilde, voltou a mudar de mãos. Na onda de fusões e aquisições que na viragem do séculos agitaram o território duriense, a passagem da Barros & Almeida para o universo da Sogevinus fez com que a quinta passasse a ser propriedade daquele grupo espanhol com origem na Galiza.

Apesar da intensa actividade empresarial, sem vinha e sem vinho os Barros pareciam não conseguir viver depois de quatro gerações sucessivas ligadas ao Douro e ao vinho do Porto. Depois de ter decidido avançar para a aquisição de uma nova propriedade, Ângelo Barros seguiu a sugestão da mulher e propôs aos responsáveis da Sogevinus a reversão da Dona Matilde, quinta pela qual a família nutria especial predilecção. O negócio concretizou-se logo em 2007, regressando o clã Barros à propriedade apenas seis meses depois.

Apesar de o negócio da família sempre se ter concentrado no vinho do Porto, Manuel Ângelo Barros é da geração que viu nascer os vinhos DOC Douro e também há muito que na família havia o hábito de guardar vinhos não fortificados, para consumo próprio e venda a amigos.

Conhecia, portanto, a qualidade, especificidades e potencial das vinhas, pelo que o início dos vinhos Dona Matilde aconteceu logo com a colheita de 2007, com o propósito assumido de partir em busca de vinhos com identidade e com a marca específicas das vinhas próprias e das suas características. Numa palavra, vinhos de terroir.

Isto com apenas 28 hectares de vinha entre os 93 totais da quinta, onde as vinhas velhas tradicionais do Douro, com 60 a 80 anos, se conjugam com outras mais recentes, plantadas há cerca de 20 anos. Os vinhos resultam da fermentação conjunta das várias parcelas, para daí resultar uma maior complexidade. Filipe Barros, da quarta geração da família, explica que a ideia passa também por evitar demasiada extracção, para que os vinhos tenham um perfil mais elegante, enquanto a madeira é utilizada “apenas para o vinho respirar”. Outros dos princípios dos vinhos Dona Matilde é que os vinhos precisam de tempo, daí que estejam agora a ser lançados os tintos da colheita de 2011.

Dona Matilde Branco 2015
Castas: Arinto, Viosinho, Rabigato e Gouveio
Graduação: 13,5%
Preço: 8,90€
Aroma fresco, com notas tropicais e de casca de laranja. Na boca mostra igualmente uma boa frescura, mesmo surpreendente, alguma estrutura, volume e acidez equilibrada. Termina longo e fresco.

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