Fugas - Vinhos

Adriano Miranda

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O renascer da Casa de Saima

Os afortunados que já tiveram oportunidade de provar e beber os enormes e deliciosos Casa de Saima Garrafeira das décadas de oitenta e noventa do século passado conhecem de cor e salteado o tremendo potencial das vinhas velhas dispersas que Graça Maria da Silva Miranda, a cara do projecto, possui nos melhores locais da Bairrada, entre Fogueira, Paraimo, Ancas e S. Mateus.

Os brancos de Saima, Colheita e Reserva, assentam nas castas Maria Gomes e Bical, ajudadas por uma vinha de Chardonnay de meia-idade, as mesmas que acabam por municiar os espumantes da casa.

Brancos impressionantes na dimensão, graça, austeridade e entrega, vinhos com uma capacidade de guarda pouco habitual que surpreende pela irreverência contida. As colheitas 1996, 1995 e 1994, vinhos brancos com mais de vinte anos, estão neste momento numa fase extraordinária, revelando uma pujança, confiança, energia, veemência, virtude, lucidez e alegria inebriantes que os transformam numa experiência quase religiosa de meditação quase transcendental.

Mas é a Baga, no caso dos vinhos mais jovens temperada com o sal e a pimenta da Touriga Nacional, que faz a fortuna dos vinhos tintos da Casa de Saima, uma Baga de vinhas velhas que são tratadas da forma mais clássica e tradicional possíveis na adega, em lagar aberto e com recurso a muito poucas das práticas que hoje entendemos como modernas.

Alguns dos vinhos mais velhos, nomeadamente os Garrafeira das colheitas 1997, 1995 e 1991, encontram-se neste momento ainda jovens e irreverentes, vinhos superlativos que o tempo começou a amansar mas que ainda revelam uma energia, audácia e ímpeto impressionantes.

É essa Baga de vinha velha e tratada de forma antiquada que dá corpo ao Casa de Saima Garrafeira, o mais recente da colheita 2008, uma das referências absolutas de como a casta Baga pode ser bruta e sensível ao mesmo tempo. Igualmente arrebatado, embora num registo muito mais civilizado, olhe com atenção para o Casa de Saima Grande Reserva Vinha da Corga Baga 2011, um tinto simultaneamente intenso mas afectuoso, bruto mas delicado, cheio de pequenas arestas que lhe emprestam uma personalidade tão cativante.

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