Foi na Quinta de Lemos, um dos produtores do Dão que aposta no estudo e inovação, que se juntaram quatro produtores para trocar ideias e experiências.
No Dão, de onde a casta se terá distribuído, há registos pré-filoxéricos mas o historial é sobretudo de dificuldades. Principalmente associadas à humidade e consequente podridão. Seguindo o princípio de que é das coisas mais difíceis que se tiram os melhores frutos, Hugo Chaves, o enólogo da Quinta de Lemos, explicou que começou por restringir fortemente a produção e os resultados têm sido interessantes. Com uma monda severa em verde consegue melhores e mais precoces maturações, com o que evita a podridão (cachos mais abertos e arejados) e antecipa a vindima, antecipando-se ao período da chuva.
No Alentejo, onde a casta “se porta como uma prima-dona”, Paulo Laureano explica que “é usada como sal e pimenta, sobretudo para dar frescura aos vinhos”. Aponta também para a vantagem da poda verde tendo como fito contrariar o vigor, donde resultam maturações precoces e vinhos exóticos, frescos e elegantes, sobretudo no terroir da Vidigueira.
Na Quinta do Gradil, na região de Lisboa, está outro dos resistentes da casta mal-amada. A enóloga Vera Moreira fala em muitos dissabores mas conclui que “quando dá é fabulosa”. No Gradil são mantidos apenas dois hectares de Alfrocheiro e feitas experiências em pequenas parcelas, com vindima manual e até bago-a-bago para avaliar do potencial. Só em anos de qualidade o vinho é engarrafado, sempre em quantidades muito pequenas. O último foi o de 2011 e também o 2015 parece reunir potencial para sair ao mercado. “Precisamos de romance para fazer o excepcional”, conclui a enóloga.
Voltando ao Dão, é na Quinta do Perdigão que se têm encontrado das melhores expressões da casta. José Perdigão agradece a Manuel Vieira e à sua “vinha pedagógica” que abriu horizontes para a rusticidade do Dão. “Começamos a aprender com a uvas”, disse, para explicar que é a vinha e as condições do ano que ditam as características do vinho e não se tem dado nada mal com isso.
A par da prova dos vinhos da casta da Quinta de Lemos, provaram-se também o Quinta do Gradil 2015, Quinta do Perdigão 2010 e Paulo Laureano Genus Genetatios Miguel Maria 2013. Todos diferentes, todos de excelência e a mostrar que é, de facto, das dificuldades que se extraem os melhores frutos.