Fugas - Vinhos

Adriano Miranda

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Os vinhos estão a ficar menos alcoólicos, mas a crítica continua a querer embebedar-nos

Se quiser ter sucesso, o produtor também tem que ouvir mais o mercado e menos a crítica, embora as pontuações dos críticos continuem a ter grande relevância. Para entrar em certos mercados, como o americano, por exemplo, é necessário ter como premissas boas notas das principais revistas de vinhos do mundo. As notas de revistas como a Wine Spectator, Wine Enthusiast, Wine Advocate ou Decanter continuam a ser um importante motor de vendas e elevação do nível de notoriedade de uma marca.

Mas o impacto das notas tem vários níveis. Um vinho pontuado com 96 ou 97 pontos pela Wine Spectator tem um grande impacto inicial nas vendas. Porém, o consumidor comum “compra uma garrafa e não volta a comprar”, pelo preço e porque são normalmente vinhos muitos potentes e pouco digestivos, sustenta Beatriz Machado, directora de vinhos no hotel The Yeatman, no Porto e mestre em viticultura e enologia pela Universidade da Califórnia. A sua tese pretendeu desmistificar as pontuações elevadas atribuídas pelos jornalistas mais conceituados a nível mundial. “As pessoas que gostam e compram vinho não querem beber só um copo. Querem poder beber uma garrafa” ao longo da refeição ou em conversa com amigos, sublinha. E isso não é possível com vinhos muito concentrados e alcoólicos e, ainda por cima, caros.

A adaptação a uma tendência não se faz de um dia para o outro, mas alguns vinhos das colheitas de 2012 e 2013 que chegaram ao mercado sugerem que há mais produtores renomados a querer fazer o mesmo caminho de Dirk Niepoort. Um deles é a duriense Quinta do Noval, mais famosa pelos seus Porto Vintage e Porto Colheita mas com crescente notoriedade nos vinhos tranquilos. Os seus tintos de 2007, 2008, 2009 e 2011 tinham todos 14,5%. Mas o 2012, o último a ser lançado, já só tem 13,5%.

Este é também o mesmo volume de álcool dos últimos Quinta da Leda, da Sogrape, proveniente da mesma quinta onde é feito o lendário Barca Velha. A propriedade situa-se no Douro Superior, uma região de clima semi-desértico. No caso dos tintos Quinta da Leda, o mérito é ainda maior, porque é mesmo difícil fazer vinhos pouco alcoólicos naquele lugar do Douro. O Barca Velha foi sempre uma excepção, porque a Sogrape recorria, e recorre, a uvas de vinhas situadas em zonas mais altas e frescas. Por outro lado, o Barca Velha é um vinho que passa quase uma década em cave antes de sair para o mercado. Se saísse ao fim de dois ou três anos, como acontece com o Quinta da Leda, não teria os admiradores que tem. Nem conseguiria manter a mesma consistência ao fim de tantos anos, mesmo em termos de volume de álcool. Apesar das mudanças do clima, da enologia e das tendências de consumo, o último Barca Velha, de 2004, tem os mesmos 13,5% de álcool do primeiro Barca Velha, de 1952. Ou seja, continua na moda. 

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