O que não surge na maioria dos contra-rótulos, mas que seria uma das informações mais relevantes, é a indicação da região onde as vinhas estão plantadas, informações sobre o tipo de solos e a origem das uvas. Uma informação vital porque em Setúbal coexistem lado a lado duas realidades distintas que separam os Moscatel da região em dois estilos quase antagónicos. Vinhas plantadas em areia, os solos dominantes na região, e vinhas dispostas na serra da Arrábida, em solos profundamente calcários, duas realidades distintas que dão origem a vinhos igualmente diferentes e com poucos pontos de contacto entre si.
Enquanto as vinhas plantadas em solos de areia permitem maturações significativas com uma concentração de açúcar substancialmente superior, as vinhas da Arrábida mantêm-se mais recatadas, mais frescas, menos intensas e com um grau de acidez substancialmente superior. Aquilo que para um vinho de mesa seria uma vantagem, uma maturação correcta e relevante, transforma-se num inconveniente quando chegamos aos vinhos generosos muito doces como é o caso do Moscatel de Setúbal. Aquilo que para um vinho de mesa seria uma desvantagem, uma acidez elevada e sem tréguas, transforma-se numa vantagem profunda quando chegamos aos vinhos muito doces, onde a acidez é fundamental para temperar e cortar o peso do açúcar.
Por isso, os melhores vinhos Moscatel nascem invariavelmente de vinhas implantadas na serra da Arrábida, expostas às partidas de uma natureza mais inclemente. Também por isso é tão importante que quem desenha um Moscatel de Setúbal tenha a acidez em conta, imaginando o vinho em redor dessa mesma acidez, vinificando e fortificando uvas em menor estado de maturação, preservando o travo de frescura que é absolutamente indispensável a estes estilo de vinhos. Quem o consegue fazer, José Maria da Fonseca, Bacalhôa, Horácio Simões e António Saramago entre outros, tem a fortuna de produzir alguns dos melhores generosos de Portugal.