Agrapart (Avize, Côte des Blancs) é mesmo uma revelação. Os seus Minéral, Avizoise e Vénus são vinhos monumentais, muito ricos, finos e vivos, provocando uma explosão de frescura mineral na boca, expressando bem cada um deles a natureza do solo de onde vêm as uvas (as colheitas mais recentes custam entre 50 e 110 euros).
Emmanuel Brochet (Villers-Aux-Noeuds) e David Léclapart (Trépail) mantiveram-nos nas nuvens. O primeiro com o Haut Chardonnay 2007, um champanhe fantástico, cheio de tensão, seco, salino e fresquíssimo (80 euros); e Léclapart com o Apôtre 2010, um glorioso Pinot Noir 100% estagiado em barrica (85 euros). Olivier Oriot (Les Riceys) provou-nos o que já sabíamos: que muitos dos champanhes que bebemos em Portugal são demasiado caros para a qualidade que têm. O seu Sève Blanc de Noirs 2010, de Pinot Noir, com o toque típico a queijo Camembert dos Pinot Noirs, é um champanhe magnífico e custa apenas 23 euros.
Nova degustação. O roteiro de Slava Ysmailov é um verdadeiro contra-relógio, sem pausa para almoço. Champanhe e mais champanhe e um pouco de queijo para enganar o estômago. O programa do primeiro dia ainda há-de incluir desgustações dos grupo Des Pieds e des Vins (onde descobrimos Aurélien Lurquin, um jovem freak e biodinâmico da aldeia de Romery, produtor de garagem que mostrou dois champanhes belíssimos, um Chardonnay e um Pinot Meunier de 2013, ambos zero dosage e com um pvp inferior a 50 euros), Genération Champagne e Passion Chardonnay (um colosso o Blanc des Blancs Extra-Brut Premier Cru 1996, da casa Henriet-Bazin), uma prova de vins clairs em Verzenay, uma visita a Benoît Margret (um biodinâmico de Ambonnay, aldeia de onde saem alguns dos melhores vinhos de Pinot Noir de Champanhe), e, pelo meio, uma prova-teste memorável em Dizy, numa das caves da Jacquesson, com o grupo Trait-D-Union. Um programa que nos levou a viajar pelas inúmeras aldeias e vilas de Champanhe, rodeadas de vinhas que se estendem encosta a cima até quase ao topo da omnipresente e verdejante montanha de Reims. Aparentemente muito homogénea, é uma paisagem graciosa que esconde nos vários tipos de solo e exposições um mundo de diferenças, bem patentes nos seis “domaines” do Trait-D-Union: Jacquesson, Egly-Oriet, Closerie, Larmendier-Bernier, Roger Coulon e Jacques Selosse.
A prova nestes seis produtores de culto começou com um desafio: uma prova às cegas de seis vins clairs de 2015, um de cada produtor, antes da degustação geral, com a chave a ser revelada apenas no final. A ideia era testar a identidade dos seis produtores, exercício mais ou menos fácil no caso de Jacques Selosse (Avize), que criou uma imagem de marca com os seus admiráveis champanhes algo oxidados mas muito complexos e minerais, cheios de notas de pólvora, grande acidez e salinidade. Os vinhos de Selosse podem não ser consensuais, mas são distintos e únicos. Grandiosos são também os Blanc de Noirs Vieilles Vignes de Egliet-Ouriet, os Jacquesson Ay Vauzelle Terme, de 2002, 2004 e 2009, e o exepcional Larmendier-Bernier Millésime 1989, um vinho de família que não está no mercado.