Uma vinha velha com pouco mais de setenta anos e com aproximadamente trinta castas misturadas que entretanto foi sendo ligeiramente alargada à medida que conseguiram ir comprando pequenas parcelas contíguas à vinha inicial. Na disposição actual predominam as variedades Touriga Franca, Tinta Roriz e Rufete, enquanto as quebras pontuais na vinha velha têm sido reparadas com insistência muito particular nas castas Touriga Nacional e Sousão.
Num esforço logístico que como é habitual no Douro se tem mostrado complicado têm vindo a comprar pequenas parcelas de vinha velha contígua, algumas com pouco mais de cem ou duzentos metros quadrados. Por vezes limitam-se a conseguir adquirir mais uma ou duas carreiras de vinha adjacente num esforço titânico mas sempre lento de aumentar a área de vinha velha.
Fazem-se aproximadamente 5000 garrafas anuais do Pintas, uma gota de água no Douro, volume que dificilmente poderá ser superado dada a exiguidade da vinha. Convém não esquecer que o Pintas é um vinho de vinha incompatível com volumes superiores, condição que se reflecte no vinho e no carácter generoso do Pintas. Criado numa adega que se mantém simples e racional, com intervenções enológicas minimalistas, com muito aprumo e rigor, nasce um dos vinhos mais voluptuosos de Portugal. É seguramente um dos grandes de Portugal, um vinho de sedução pura, robusto e glorioso, um vinho de extremos, um vinho de tormenta e paixão.
Apesar do êxito tremendo do Pintas, apesar de terem os seus vinhos transformados em objectos de culto, Sandra Tavares e Jorge Serôdio continuam fiéis ao espírito e filosofia que sempre os tem acompanhado, a decisão de fazer vinhos de vinhas muito velhas, vinhos visceralmente durienses no carácter. Vinhos de produção muito limitada que manifestam de forma fidedigna a personalidade de cada vinha, o temperamento de cada terroir. Sempre com o propósito de intervir o mínimo possível, permitindo que sejam o terroir e o ano agrícola a proclamar a expressão do vinho, deixando a retórica para a vinha e para a natureza em detrimento da assinatura do homem.
São estes princípios que explicam que, apesar do sucesso inquestionável, as quantidades disponíveis se conservem tão limitadas, neste Pintas que continua a ser um vinho de garagem. Grandes vinhos que consagram uma visão muito especial do Douro.