Fugas - Vinhos

Cathal McNaughton/Reuters

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Santorini, Assyrtiko e Sigalas

Um Sigalas nascido em Santorini, testemunho vivo e exótico de uma das histórias mais ricas da cultura vínica universal. Nascido de uma vinha estupidamente velha, desalinhada pelo coração nada turístico do interior de Santorini, longe das praias. Vinhas muito velhas, as mais novas centenárias e as mais velhas já com mais de duzentos anos, vinhas dispersas pelo escasso interior rural, isoladas no pequeno mundo que ainda não foi tomado pela prepotência de hotéis e turistas.

O solo proporciona uma paisagem quase lunar varrida pelos ventos tempestuosos que fustigam a ilha. De tão pobre, seca e estéril, Santorini nunca foi acometida por doenças da vinha, permanecendo até à data imune aos ataques de míldio, oídio, podridão ou filoxera! Por isso, as cepas centenárias da casta Assyrtiko continuam hoje, como desde sempre, a ser plantadas em pé-franco, sem porta enxertos, numa ilha onde os pesticidas nunca foram utilizados. Cultura orgânica no estado mais puro e exacerbado.

Talvez por isso este Sigalas Assyrtiko se mostre tão tenso, duro e incrivelmente mineral, revelando um volume de boca inimaginável. Surge quase mastigável, incisivo, penetrante, cortante na acidez endémica que o sobressalta. Mineral, termina explosivo e acutilante, gigantesco na dimensão, férreo no carácter, seco e tenso, sem denunciar qualquer concessão no estilo. Um grande vinho branco que mostra que os países do Sul também podem ascender Olimpo dos vinhos brancos mundiais.

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