Fugas - Vinhos

BRUNO SIMÕES CASTANHEIRA

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Para quando, Tejo?

É ainda verdade que a viticultura foi tradicionalmente o parente pobre do Tejo e que a selecção das castas sempre se mostrou mais interessada em promover e procurar a quantidade que a qualidade. Uma triste realidade que acabou por condicionar as vinhas da região, forçando a que o Tejo tenha abdicado de ter uma identidade própria na eleição de castas. A escolha da Trincadeira foi um desastre, com a eventual excepção de um caso muito pontual que acabou por ser replicado quase à exaustão mais por cópia que por estudo ou ensaios próprios. O Fernão Pires e o Castelão estão demasiado disseminados pelo país para poderem ser encarados como castas tradicionais da região, embora continue a ser um desgosto ver o desprezo a que estas duas castas têm sido tão injustamente submetidas.

As castas brancas Tália e Trincadeira das Pratas, autêntico símbolo de uma época passada mas menosprezadas na actualidade, dificilmente são equacionadas num projecto novo. Em lugar de se estudar o passado e de se tentar resgatar do esquecimento variedades tradicionais, a maioria dos produtores procura facilidades em castas mediáticas nacionais, como as eternas Touriga Nacional, Aragonês ou Arinto. Em lugar de procurar criar ou recriar uma identidade local, a maioria dos produtores envereda pela comodidade da escolha de castas estrangeiras, promovendo variedades como o Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay ou amigas, tentando cavalgar a onda do preço como argumento principal de venda.

Não existe nenhum impedimento natural para que o Tejo consiga produzir vinhos de carácter ou vinhos de qualidade superior. As principais barreiras para o insucesso do Tejo são a imagem modesta junto do consumidor, a dificuldade em quebrar barreiras psicológicas e, infelizmente, a atitude de muitos dos produtores da região. Poucas ou nenhumas regiões mostram uma atitude tão derrotista como o Tejo. Chega a ser penoso ouvir os queixumes constantes, os lamentos recorrentes sobre a incompreensão tanto do público como da imprensa especializada, a recusa e receio em avançar para segmentos superiores do mercado.

Por vezes impressiona o imobilismo do Tejo, a falta de visão e de arrojo na procura de uma identidade própria, a ausência de promoção das diferenças e da sua própria individualidade. Desassossega que o Tejo seja a única região de Portugal que não ofereça produtores ícones, produtores que nos façam sonhar, que sejam diferentes e desalinhados, que produzam vinhos excepcionais, que sejam originais na diferença ou na procura do respeito ou reviver das tradições da região. Todos teríamos muito a ganhar com isso. O Tejo merece esse investimento dos produtores.

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