Para obviar aos meses mais quentes do ano, onde seria quase impossível assegurar a sobrevivência das plantas e manter a salubridade dos cachos, as vinhas foram sendo condicionadas a um período de dormência que se prolonga durante os meses de Julho, Agosto e Setembro, reajustando o período de actividade de Outubro a Junho, quando terminam as vindimas no deserto egípcio.
Se neste momento acredita que o vinho não passa de uma curiosidade local para impressionar e divertir turistas, fique a saber que os vinhos são exportados para diversos mercados, brancos incluídos. Não deixa de ser curioso que, apesar dos problemas de salinidade, da falta de nutrientes no solo e das limitações climáticas que obrigaram a antecipar as vindimas e o ciclo da planta, as práticas agrícolas são inteiramente orgânicas, mantendo a certificação das vinhas no patamar de vinho biológico.
As vinhas do produtor francês Domaine Royal de Jarras debatem-se com problemas simultaneamente semelhantes e opostos, manifestos no excesso de salinidade nas águas costeiras da região francesa de Camargue e numa disponibilidade de água tão evidente que todos os anos as vinhas acabam submersas por períodos que por vezes se estendem por mais de um mês. As vinhas situam-se nas regiões pantanosas da Camargue, onde água, sal e areia se misturam numa amálgama pouco habitual para a implementação de vinhas.
As areias profundas actuam num estilo semelhante à região de Colares, criando uma barreira natural para a invasão da filoxera que transformou o Domaine Royal de Jarras num território imune às mazelas da praga que quase devastou as vinhas do velho continente europeu. As referências habituais à salinidade presente nos vinhos do produtor poderão ser ainda mais facilmente aceites e compreendidas quando se descobre que as vinhas bordeiam as salinas da região envolvendo a paisagem numa imagem muito pouco habitual para a realidade europeia.