Fugas - Vinhos

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O nome dele é Moreira, Jorge Moreira

Mas essa é apenas uma espécie de teoria geral. Os resultados têm outras origens e explicações. “Ele é um bocadinho a roçar o obcecado com o que faz”, ajuda Olga Martins. A frescura, a textura ou o balanço dos seus vinhos exprimem “uma enologia irrepreensível”, própria de quem “não tolera erros” na vinha ou na adega, justifica Luís Lopes. “O que me impressiona é a forma como ele faz reflectir o terroir no vinho”, avança Pedro Silva Reis.

Conhecido e reconhecido pelo seu combate em três frentes, Jorge Moreira chega aos 20 anos de carreira com direito a considerar-se “um homem com sorte”. “Sempre modesto, apesar de todo o seu sucesso”, como diz a proprietária de La Rosa, Jorge Moreira está num ponto do seu percurso em que a pergunta, “e agora?” faz particular sentido.

Escolheu os DOC Douro mais que o Porto porque sentia que aí havia “muito mais a descobrir”. E, pela sua maneira de ser, continua a haver. Uma das suas marcas profissionais é, para lá do perfeccionismo, a permanente insatisfação e a necessidade de descobrir. “Vinte anos depois, ainda há muitas coisas que eu não sei”, nota. Como jogar críquete. Esse é, aliás, “o seu maior problema”, diz Sofia Bergqvist, uma duriense de origem sueca e britânica.

Conhecer as castas, respeitar a natureza
por José Augusto Moreira

Por entre poucas certezas e as muitas questões com que vai cimentando o seu conhecimento, Jorge Moreira não tem dúvidas de que “o melhor caminho é conhecer as cepas, respeitar a uva e a região”. Em vez da intervenção enológica, o estilo do vinho tem que ser definido pelo perfil da casta, a vindima e as condições da vinha.

Jorge Moreira mostra não só que o estilo é produto da vinha (e não feito na adega), como os vinhos do Douro não têm que ter qualquer receio quando comparados com os de maior prestígio mundial. A única diferença, diz, “está apenas no preço”, e essa é uma batalha que a região tem que encarar rapidamente. Como exemplo conta uma prova recente do Grandjó Late Harvest 2012 com o enólogo do famoso Château d’Yquem (chega a custar milhares de euros), onde ficaram evidentes as semelhanças. Tanto na qualidade como nos métodos e custos de produção!

É até com propósito didáctico que o enólogo dá a provar alguns vinhos da Quinta de La Rosa ou do projecto Passagem, no Douro Superior. A ideia é mostrar que de diferentes vinhas e exposições resultam diferentes perfis. E que há excelentes brancos no Douro, como ainda agora o mostra o pioneiro La Rosa 2008.

Sofia Bergqvist conta o entusiasmo com que, na colheita de 2005, Jorge quis elaborar um conjunto de três tintos com os lotes Cerejinha, Vale do Inferno e o blend resultante de ambos. Os consumidores podiam ver as diferenças e assim perceber melhor o Douro e as características de La Rosa. Ninguém quis saber! Mas os vinhos estão perfeitos e mostram que já há mais de uma década Jorge Moreira percebia no Douro o futuro que muitos só agora começam a vislumbrar.

 

 

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