Fugas - Vinhos

ANTÓNIO CARRAPATO

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Terrenus, Rui Reguinga e o Alentejo

Sim, felizmente existem algumas excepções à regra e ainda mais felizmente essas excepções chamam francamente à atenção pela bondade do projecto e pela validade do conceito. Uma dessas excepções foi recentemente materializada por Rui Reguinga, enólogo consultor de vários projectos nacionais e simultaneamente produtor nas regiões do Tejo e Alentejo.

O seu vinho mais emblemático enquanto produtor é o Terrenus, o vinho pessoal de um dos enólogos nacionais mais respeitados que começou a sua carreira como consultor independente precisamente no Alentejo, Tejo e Dão. Talvez por isso tenha sido aqui no Alto Alentejo, em Portalegre, que Rui Reguinga caiu na tentação de fazer um vinho próprio nascido das vinhas velhas da serra de São Mamede.

Um vinho com histórias para contar que é feito por quem suja as mãos sem deixar o projecto em mãos alheias, um vinho autêntico que é elaborado com castas locais, variedades indígenas que espelhem a diversidade das vinhas velhas e misturadas de onde saem as uvas de dezenas de castas de nomes quase esquecidos. Vinhos que misturam o conceito de terroir com um sentimento de autenticidade e tradição, vinhos que são o mais fiel possível às vinhas e ao clima de altitude da serra de São Mamede apresentando-se como minimalista na adega.

Mas se o Terrenus Reserva Branco já era um dos marcos do Alentejo, é fácil perceber que o Terrenus Vinha da Serra Branco 2014 representa um passo acima na hierarquia dos vinhos brancos nacionais. Um vinho de uma vinha com mais de cem anos com castas misturadas que comporta entre outras variedades com nomes como Arinto, Fernão Pires, Bical, Roupeiro, Malvasia ou Tamarez. Um vinho feito à moda antiga que traduz uma produção muito limitada, de mil garrafas que definem um novo padrão para os vinhos brancos do Alentejo.

Um branco simultaneamente gordo, imponente e cheio mas elegante, fresco, mineral e focado. Um vinho branco intenso e poderoso que mostra um nariz desconcertante pela austeridade que mais tarde é substituído pela intensidade das notas de ervas aromáticas que invadem os sentidos numa onda avassaladora. A boca é supinamente fresca e untuosa, mineral, cheia e estruturada, revelando um branco original que arrebata o coração. A não perder…

 

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