Fugas - Vinhos

Daniel Rocha

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Quinta Foz de Arouce

Há algo de mágico nos vinhos da Quinta de Foz de Arouce, detalhes e apontamentos que transformam os vinhos deste produtor tão original em vinhos notáveis. Grandes traços que revelam uma personalidade carregada, subtilezas e nuances que determinam vinhos com coração e alma, vinhos com identidade, originalidade e sensibilidade. Em nenhum outro local de Portugal a casta Baga consegue proporcionar vinhos com esta dimensão e elegância, com esta generosidade e entrega, com este garbo e distinção. Porque os vinhos da Quinta de Foz de Arouce, nascidos na solidão das serranias, apresentam-se como um dos exemplos portugueses mais decisivos de vinhos elegantes e bem proporcionados, vinhos envoltos em mistério, vinhos de meditação que não se entregam desde o primeiro instante, vinhos pujantes mas aprimorados, ligeiramente rudes e encrespados mas terrivelmente educados vivendo num mundo permanente de contrastes e contradições que os transformam em vinhos temperamentais e de carácter forte.

A estrela da casa tem sido o Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria, um vinho extreme da casta Baga que nasce de uma vinha velha com mais de setenta anos que foi plantada num local tão inóspito que chega a intimidar pela severidade da localização. Uma vinha extraordinária na exposição e na expressão de um terroir que é único e irrepetível. Uma vinha que está reflectida num vinho que é ele igualmente irrepetível e inimitável, uma vinha caprichosa e de velhas finuras.

Curiosamente uma vinha da casta Baga que nada tem a ver com os Bagas da Bairrada. Na Quinta de Foz de Arouce, e neste vinha em particular, os vinhos surgem com uma expressão mais urbana, civilizada e cosmopolita, por vezes numa postura mais carnuda e opulenta enquanto outras vezes numa atitude mais delicada e aristocrata. Vinho de alma, coração, e de entrega generosa, vinhos telúricos no apego à terra e às tradições, vinhos excepcionais na originalidade e honestidade. A edição Vinhas Velhas de Santa Maria é especialmente fidalga e temperamental num vinho que apesar de poderoso é tremendamente cortês e aprimorado. Um grande vinho, profundamente português na alma e na expressão. Paradoxalmente é talvez o vinho tinto mais bordalês de Portugal.

Um vinho clássico, tradicionalista, conservador e sem nenhum truque ou artifício de adega, um vinho tinto elaborado com uma casta difícil como a Baga mas que, apesar deste ponto de partida, resulta tão elegante, fino, focado e deliciosamente civilizado. Uma prova mais que os estereótipos e os dogmas não têm lugar no mundo do vinho

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