Fugas - Vinhos

Jeff Pachoud/AFP

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Inovações ou simplesmente devaneios?

O maior contratempo para os dois jovens empresários e investigadores é que o vinho persiste em apresentar-se como uma realidade tão misteriosa e complexa que, apesar da sofisticação do conhecimento actual, a ciência continua a não conseguir explicar ou identificar todos os componentes e compostos químicos que são gerados de forma espontânea e natural durante a fermentação.

Não é fácil distinguir e identificar a forma como cada um dos mais de mil componentes químicos que se sabem estar presentes num copo de vinho afectam percepção humana, tal como não é fácil reconhecer qual a responsabilidade de cada um desses compostos individuais nas sensações perceptíveis de corpo, textura, sabor ou aroma.

A comprovar a dificuldade da empreitada sabe-se já que os primeiros ensaios de afinação de pré-série consumados com vinhos brancos e espumantes não terão tido o impacto, qualidade e estilo que os empresários pretendiam. Segundo os comentários produzidos por jornalistas insuspeitos da revista científica New Science, jornalistas não especializados em vinho, o aroma da “bebida” instantânea que pretendia copiar os vinhos do estilo Moscato d’Asti que lhes foi dada a provar assemelhava-se notavelmente ao aroma presente nos animais de plástico e borracha insufláveis que costumam ser usados para divertimento das crianças nas piscinas.

As descrições suficientemente ilustrativas relatam ainda notas de álcool de lavar pratos, benzina e apontamentos artificiais de sabonete de alfazema, entre outros descritivos igualmente pouco abonatórios para o sucesso da operação. A boca revela um registo menos adverso, apontando mais para o cinzentismo com referências reiteradas sobre a neutralidade de uma bebida que sabe a água…

Descritivos que não parecem constituir referência segura e insofismável para os objectivos de uma empresa que não esconde querer começar a sua afirmação no mercado doméstico norte-americano através de uma cópia que consideram fiel, embora sintética, do famosíssimo Champagne Dom Pérignon.

Segundo os dois dirigentes da startup, será possível fazer uma reprodução perfeita do famoso Champagne a um preço unitário de 50 dólares versus o preço de várias centenas de dólares a que é comercializada a versão original e genuína deste espumante francês. Por ora as principais denominações de origem podem dormir tranquilas, já que o milagre da transformação da água continua a ser um exclusivo do sagrado.

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