Por muitos esforços que se possam fazer em contrário, a realidade encarrega-se de demonstrar que raramente abraçamos percursos que possam ser considerados verdadeiramente originais, acabando a maioria por perfilhar itinerários que muitos antes de nós já tinham traçado no passado. Uma realidade que talvez seja ainda mais certeira no eternamente clássico mundo do vinho.
Naquela fase ainda incipiente de conhecimento do universo do vinho e de tudo aquilo que o rodeia, tanto as expectativas como o grau de exigência da maioria dos neófitos é diminuta. No início, uma garrafa cheia e um copo minimamente aceitável são mais que suficientes para que as necessidades essenciais fiquem preenchidas e para que o prazer possa ser sentido de forma natural.
À medida que o conhecimento vai aumentando, e com ele as expectativas e o grau de exigência, a maioria dos enófilos começa a sentir vontade de maximizar esse prazer procurando alternativas que se estendam para além das necessidades básicas.
É certo e sabido que, mais tarde ou mais cedo, esta maleita acaba por invadir todos os enófilos e apaixonados pelo vinho. Com maior ou menor devoção, de mansinho ou com forte alarido, será apenas uma questão de tempo e oportunidade até a maioria sucumbir à sedução das dezenas de acessórios e gadgets que revolvem em redor do vinho.
É nesta fase que surgem na equação acessórios relevantes como os primeiros copos especializados para vinhos brancos, tintos e fortificados. Costuma também ser nesta etapa que pela primeira vez se fala na necessidade de um decanter e de um saca-rolhas sofisticado que torne as operações mais fáceis e competentes. Outros avançam ainda para acessórios menos generalistas como termómetros, acessórios de vácuo e demais sistemas de preservação das sobras de vinho.
Algures no percurso haverá sempre quem acabará por perder a razão, entrando no universo paralelo dos acessórios excêntricos que insistem em aparecer fruto de uma imaginação delirante e inesgotável. Por estranho que pareça, existem milhares de acessórios desenhados para todos os gostos, capacidade financeira e necessidades. Uns mais essenciais que outros.
Talvez ainda mais surpreendente que a imaginação e aparente insanidade de muitos dos acessórios do vinho propostos seja o desejo de corte radical com o passado, a vontade expressa de revolucionar o universo do vinho abordando o mercado com soluções alternativas que, se alguma vez vingarem, poderão subverter por completo a forma com encaramos, julgamos, compramos e apreciamos o vinho.
Talvez a proposta mais radical, seguramente aquela que levantará mais sobrolhos pela aparente insanidade mental, será a proposta de uma startup de São Francisco, Estados Unidos da América, que propõe o desejo declaradamente bizarro de recriar o milagre das bodas de Caná transformando água em vinho num processo milagroso que, de acordo com os dois empresários, não deverá tardar mais de quinze minutos.
Segundo os autores do conceito, que abordam o vinho de forma simplista e sem qualquer tabu, o vinho não será nunca mais que uma mera colecção de compostos químicos que, segundo a crença dos dois autores, poderá ser reproduzido de forma fiel, bastando para tal descobrir e recriar a fórmula definida pela natureza para cada casta, estilo ou região.