Fugas - Vinhos

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Os novos vinhos de terroir da Quinta dos Murças

 Os primeiros vinhos da aventura do Esporão no Douro já tinham deixado muito boas indicações. Mas esta descoberta pode levar o projecto da Quinta dos Murças para um patamar ainda mais alto. A ideia agora é preservar tudo ao máximo e continuar o processo de conversão de toda a propriedade para modo biológico, uma aposta de que os proprietários, em especial João Roquete, o responsável máximo pelo projecto, são os maiores entusiastas. A aposta em vinhos cada vez mais naturais e autênticos começa na vinha e estende-se à adega, onde os melhores tintos de quinta são produzidos com recurso a leveduras indígenas e em lagares de granito com pisa a pé. Fermentar com leveduras indígenas, para que os vinhos expressem fielmente a natureza do lugar e das castas, é sempre uma operação arriscada, “mas é no risco que se fazem os grandes vinhos”, justifica José Luis Moreira da Silva, o enólogo residente.

Desde que chegou ao Douro, o grupo Esporão não tem parado de fazer investimentos na adega e na drenagem da quinta, cuja verticalidade quase desafia as leias da física. Há vinhas com mais de 45% de inclinação e os antigos proprietários ainda tentaram, sem êxito, instalar pequenos teleféricos, do género dos que se usam na Suíça. Uma dessas parcelas muito inclinadas foi a primeira vinha ao alto a ser plantada no Douro. Data de 1947 e é dali que vêm as uvas para o novo topo de gama da quinta, o tinto Quinta dos Murças VV47. “VV” de vinhas velhas mas também de vinha vertical. O primeiro vinho é da colheita de 2012 e acabou de chegar ao mercado. É um tinto extraordinário, um vinho de uma parcela com diferentes castas (Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Barroca e Sousão, entre outras), de aroma limpo e vivo, com muita fruta madura e também muitas notas frescas e apimentadas e de sabor intenso e refinado. 

Na nova gama de vinhos com a chancela Quinta dos Murças (só tintos), já idealizada com base nos diferentes terroirs da propriedade e na qual só entram uvas próprias (a gama Assobio, mais de combate, passa a ser feita apenas com uvas compradas a agricultores locais), entram ainda o Quinta dos Murças Reserva (um dos melhores vinhos do Douro no seu segmento), o Quinta dos Murças Margens e o Quinta dos Murças Minas. Enquanto o VV47 e o Reserva só saem para o mercado ao fim de três, quatro anos, o Margem e o Minas são lançados logo no ano seguinte à vindima.

É uma aposta ousada mas que, a avaliar pelos vinhos de estreia, ambos de 2015, pode ser bem sucedida. São dois tintos cheios de elegância, muito vinosos, com fruta graciosa e limpa, taninos maduros e uma belíssima frescura. Com estágio em barricas usados, têm ambos a marca Douro (de forma mais robusta o Margens, que deverá ter um PVP de 30 euros, o dobro do Minas). No fundo, o que os responsáveis dos Murças procuram com estes dois vinhos é replicar nos DOC Douro a nova tendência dos Porto Vintages, que já são feitos de forma a poderem ser bebidos cada vez mais novos, quando a fruta ainda domina todo o bouquet; e, ao mesmo tempo, explorar de diferentes formas o mundo novo que se abriu com a descoberta dos especialistas franceses. 

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