Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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Há novos caminhos a cruzarem-se no Dão

O que estava em causa era a necessidade de haver uma gestão profissional para um negócio que ganhara dimensão. Lígia Santos estava nessa altura em Lisboa. A sua relação com o mundo do vinho não tinha ido muito para lá das experiências com um tinto ou um branco à mesa. Licenciara-se em Direito, fizera o mestrado na capital e trabalhava no gabinete de José Eduardo Martins – conhecido pela sua militância no PSD. Mudar de vida era para ela um desafio. Irrecusável: “Isto é um projecto da família e não fazia sentido que não fosse administrado pela família. Fazia-me confusão vir alguém de fora para gerir a empresa”, diz. Em 2014, a feição actual da Caminhos Cruzados estava delineada. Havia um dono para o problema da gestão, da parte comercial e do marketing, havia uma infra-estrutura, uma área de vinha em exploração que estava a crescer até os actuais 35 hectares e uma equipa de enologia que garantia boas perspectivas. Jovem, desempoeirada e dinâmica, Lígia converteu-se sem dificuldade. “Isto é um negócio apaixonante”, diz.

Seria no entanto mais um negócio se os seus vinhos fossem apenas mais uma meia dúzia de marcas no interminável catálogo da produção nacional. Era preciso um conceito, uma ideia. Alguma coisa diferente, até porque “o meu pai é uma pessoa que gosta de romper, de inovar”. Mas estava fora de causa prescindir da imagem e da identidade do Dão. Nas castas, por exemplo, a empresa só utiliza variedades regionais e dá-se ao luxo de ter uma pequena gama de vinhos só com Alfrocheiro ou Jaen. Mas, a ideia que germinou era a de acrescentar ao Dão “um cariz mais moderno e inovador, menos pesado”, diz Lígia. Paradoxalmente, foi por isso que um “clássico” da região como Manuel Vieira foi contratado. O seu saber seria a base para tudo o resto. A sua experiência e irreverência, também.

Porque uma coisa é fazer diferente e outra é fazer diferente e bem. Aí, a noção de que a invenção da roda numa região com os pergaminhos do Dão é perigosa, impôs-se. E a discussão sobre o que essa ideia da modernidade no vinho, também. “Há uma coisa que me faz confusão: a ideia de um Dão ultrapassado. É um sentimento que não está correcto. Houve imensa inovação nos últimos 20 anos: o uso de barricas na fermentação da Encruzado, a aposta na Jaen…”, diz Manuel Vieira. Lígia reforça a apologia do enólogo que a cada passo se insurge contra a “falsa inovação” - como a que leva algumas companhias ou enólogos a querer fazer brancos de uvas tintas. “Ele é um titã do Dão, não é nada antiquado. Tem até ideias loucas”, diz. E no elogio segue Carlos Magalhães. Pelo trabalho na adega, mas também na vinha. “Houve uma grande mudança na viticultura e isso ajudou imenso”, diz Carlos.

Com “uma dupla de enólogos engraçada”, nas palavras de Lígia, com solidez financeira, com um conceito e um projecto, a Caminhos Cruzados conseguiu ser diferente e não apenas porque querer ser diferente. Os vinhos da empresa vendem-se bem, sejam o Teixuga de 2013, de pequeníssima produção (1200 garrafas), que é o topo de gama da casa, sejam os Titular (80 mil garrafas), cujos preços variam entre os cinco e os 12.50 euros, ou as segundas linhas formadas pelos Terras de Santar e Terras de Nelas - o Titular Encruzado de 2014 está esgotado há oito meses. E, nos caminhos que se vão cruzando, dizem que o melhor ainda está para vir. “O grande salto vai ser dado quando tivermos a nossa adega”, diz Carlos Magalhães

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