Fugas - Vinhos

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O “novo” Douro em seis variações

As uvas, provenientes de Carrazeda de Ansiães e de Muxagata, fermentaram com película e engaço durante 12 dias em cuba e estagiaram durante cerca de dois anos em barricas de muito uso. O vinho foi engarrafado apenas em garrafas magnuns (45 euros) e double magnum (100 euros ). Não há nada igual no Douro. É um vinho seco e austero, ancião no estilo, com muito tanino e uma frescura natural deliciosa. Um branco de encher a boca,  que está em constante mutação no copo e que nos faz meditar sobre a bondade da tendência actual dos brancos de estágio curto e muito centrados na exuberância aromática.

Niepoort Turris 2012

Dirk Niepoort é o maior criador de vinhos do Douro e, provavelmente, do país. No Douro, já merecia uma estátua, tal tem sido o seu contributo para o desenvolvimento e o reconhecimento dos vinhos durienses no país e no mundo. Dirk anda sempre à frente, sabe perceber e antecipar tendências e pensa pela própria cabeça. Nem sempre é consensual, pelo menos perante alguma crítica, que não recebeu bem – por não ter entendido bem – algumas das suas criações, de estilo muito diferente ao que impôs na sua fase criativa inicial.

Como muita gente, Dirk também começou por fazer vinhos do Douro potentes e concentrados, mas também foi dos primeiros da região a seguir por outros caminhos e a fazer vinhos menos marcados pela madeira, menos opacos e encorpados e mais digestivos. O lançamento do Charme, no início da década passada, foi a pedra de toque e, ainda hoje, há quem olhe para este fantástico vinho, de estilo muito borgonhês, com algum desdém. Mas Dirk não cedeu e em 2012 fez um vinho ainda mais original e distinto, o Turris (115 euros).

É um tinto de uma vinha com mais de 130 anos, meio caótica, e que envelheceu 15 meses em pipas de mil litros com mais de 60 anos trazidas do Mosel, na Alemanha. Ao contrário do Charme, que é feito em lagares de granito, o Turris fermentou em cuba de inox com 25 por cento de engaço e o vinho ficou a macerar levemente após a fermentação durante cinco semanas.

É um vinho de grande profundidade e comprimento, com uma expressão mineral muito pura e fresca, surpreendentemente sedoso mas ao mesmo tempo cheio de garra. Parece saído de uma vinha-jardim coberta de orvalho, tal é o frescor da fruta e o viço das notas florais. Um Douro único, até mesmo em termos de imagem. Cada garrafa tem um rótulo diferente, desenhado directamente no papel pelo artista plástico João Noutel, cuja obra, na forma como explora “alguns paradoxos e contradições humanas, como o desejo, a tensão, a felicidade”, tem no Turris, lê-se na site da Niepoort, “uma criação análoga e representativa de arrojo e optimismo, elegância e sobriedade, numa perfeita ligação do presenta com o passado”.

Muxagat Os Xistos Altos Rabigato 2013

Mateus Nicolau de Almeida teve um bom mestre: o pai, João Nicolau de Almeida, um dos grandes obreiros da revolução operada nos vinhos tranquilos do Douro nas últimas três décadas. Mas Mateus nunca se remeteu ao conforto paterno e, com a criação do projecto Muxagat, no início da década passada, cedo mostrou ser um dos mais irreverantes enólogos da nova geração. Apostou em vinhos tintos menos alcoólicos e mais elegantes, criou um monocasta de Tinta Barroca (uma casta tradicional do vinho do Porto mas pouco utilizada em vinhos tranquilos) e elevou a casta Rabigato a um patamar nunca visto com a produção do vinho Xistos Altos, um dos melhores brancos do Douro e do país.

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