Fugas - Vinhos

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O “novo” Douro em seis variações

A Real estendeu o projecto também a algumas castas estrangeiras, como o Moscatel Ottonel, uma variedade com boa presença na Áustria, Suíça, Roménia e na região francesa da Alsácia. A empresa da família Silva Reis plantou dois hectares na zona de Granja, entre Alijó e Favaios, num planalto situado a cerca de 600 metros de altitude e onde se concentra a maior mancha de Moscatel Galego do Douro, a principal casta local. O Moscatel Ottonel adptou-se bem e mostrou ser mais resistente às doenças do que o Moscatel Galego e também mais fino e elegante, por ter uma acidez menos viperina (no entanto, quando é bem feito, o Moscatel Galego atinge um outro patamar).

Mas o maior contributo da iniciativa Séries para os vinhos do Douro foi a criação de um monocasta de Rufete. O Rufete 2010 (12 euros) deu início, de resto, ao projecto. Esta casta tinta também faz parte do encepamento tradicional das vinhas velhas do Douro, mas nunca foi uma aposta na produção de vinhos tranquilos, pela sua delgadez. Mas foi esse pormenor e a frescura e a jovilidade e exotismo aromático do Rufete que inspiraram a equipa de enologia da Real Companhia Velha a fazer um vinho diferente, um verdadeiro tinto de Verão. Um vinho para um novo Douro feito a partir do velho Douro.

Poeira Branco 2014

Ao contrário de outras regiões portuguesas, o Douro tem-se mantido mais ou menos fechado (por opção dos produtores) à introdução de castas estranhas à região. A enorme diversidade e riqueza das castas tradicionais existentes tem sustentado o desenvolvimento e o tipicismo dos vinhos tintos e brancos do Douro. A principal excepção está ligada aos espumantes, cujo incremento tem motivado a plantação de vinhas de Chardonnay e Pinot Noir. Estas são as duas variedades estrangeiras com maior expressão no Douro.

O Sauvignon Blanc também chegou a ser uma opção, mas como é demasiado precoce tem vindo a perder adeptos. Em contrapartida, castas um pouco mais “verdes”, como o Petit Verdot e a Syrah, parecem mais viáveis. Por exemplo, a Quinta do Noval, uma das mais tradicionalistas no vinho do Porto, produz um monocasta de Syrah, o Labrador, que é um caso de sucesso.  

Nas variedades tintas nacionais, tem havido uma corrida ao Sousão (o Vinhão dos Vinhos Verdes) e, mais recentemente, ao Alicante Bouschet (Alentejo), mas nenhuma destas duas castas é estranha ao Douro. Há Alicante em algumas vinhas velhas, tal como Baga da Bairrada, por exemplo, que já entrou no lote do primeiro Barca Velha, de 1952; e o  Sousão chegou ao Douro, vinda de Ponte de Lima, no século XVIII, através da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que pretendia usar esta casta tintureira como alternativa à baga de sabugueiro, muito utilizada na altura no fabrico dos vinhos. Durante a filoxera, o Sousão foi, juntamente com o Mourisco Tinto e o Tinto Cão, a casta que mais resistiu à praga.

Mesmo assim, nunca ganhou expressão no Douro. Com o advento dos Douro DOC, a região voltou a olhar para o Sousão, mas, em vez de ter replicado vinhas a partir das poucas videiras velhas existentes, foi buscá-la de novo ao Minho, deitando fora quase dois séculos de história e de adpatação da casta.

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