Fugas - Vinhos

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Os grandiosos moscatéis da Bacalhôa

Se estes vinhos generosos pecam por algo, é por não terem o nível de acidez dos Madeira, por exemplo, que torna o consumo dos vinhos insulares muito mais apelativo. Mas, mesmo assim, os moscatéis de Setúbal são tudo menos chatos. Quando atingem alguma vetustez e os ácidos e os açúcares vão ficando cada vez mais concentrados e a acidez volátil vai subindo (expressa no chamado vinagrinho, que dá uma maior intensidade e vivacidade ao vinho, produzindo o mesmo efeito de um golpe de vinagre numa salada), são vinhos grandiosos e inesquecíveis. Provamo-los e fazemos a mesma pergunta de sempre: por que razão os bebemos tão pouco?

Os vinhos

A prova de moscatéis da Bacalhôa incluiu vinhos de 2016, 20013, 2002, 1996, 1995 e 1985. Destacamos sete.

Bacalhôa Moscatel de Setúbal Superior 2002
Vinho do nível de classificação mais alto. Já bastante complexo, com um bouquet dominado por muitas notas químicas, frutos secos, casca seca de laranja, especiarias. É gordo e rico na boca, mostrando fruta agridoce, alguma rusticidade tânica e um certo amargor, que ajuda a contrabalançar o lado mais doce. Um vinho com uma relação qualidade/preço magnífica (15,99€).
Pontuação: 90

Bacalhôa Moscatel Roxo Superior 2002
Mais fino e floral do que o Moscatel de Setúbal mas também ligeiramente menos complexo. Na boca surge um pouco caramelizado de mais. Mas a sua boa acidez atenua essa sensação e aviva e prolonga a prova (19,99€).
Pontuação: 89

Bacalhôa Moscatel de Setúbal Superior 20 Anos (1996)
O melhor da prova, na nossa opinião, apesar de ter sido engarrafado há menos de uma semana. Um vinho com a acidez volátil no ponto certo (alta mas tolerável), de grande complexidade aromática, muito vivo e picante e de uma dualidade sensorial arrebatadora, juntando de forma bem proporcionada sabores doces e amargos, salgados e ácidos. Possui enorme profundidade e comprimento, deixando uma grande impressão na memória (49,90€).
Pontuação: 96

Bacalhôa Moscatel Roxo Superior 20 Anos (1996)
Um belíssimo vinho. As suas notas agridoces de marmelade, o toque de verniz e o seu nervo especiado são uma delícia. Ainda assim, não tem a mesma complexidade, nem a mesma limpeza e definição aromática do seu “irmão” do mesmo ano, apesar de ser ligeiramente menos doce (59,90€).
Pontuação: 92

 

Bacalhôa Moscatel de Setúbal Superior 20 Anos (1995)
É uma pena que se tenha mostrado um pouco fechado de aroma, mas não deixa de ser um grande moscatel, muito próximo do nível do 1996 (49,90€).
Pontuação: 93

 

Bacalhôa Moscatel de Setúbal Superior 30 Anos (1955)
Um colosso. O mais denso, rico e concentrado de todos. É aromática e gustativamente arrebatador e explosivo. O vinho cola-se à boca, perdura, embora sem a mesma vivacidade do 1996. Se tivesse o frescor do 1996 (mais vibrante nesta fase precisamente por ser menos concentrado em açúcar), se fosse um pouco mais anguloso, seria um vinho do outro mundo. Mas é formidável (129€).
Pontuação: 95

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