Fugas - Vinhos

Paulo Pimenta

A dinâmica natural que faz dos Aphros o espelho dos novos Vinhos Verdes

Por José Augusto Moreira

O respeito pela natureza e uma relação de absoluto equilíbrio com a terra são a essência de todo o projecto. Vinhos frescos, frutados e de uma tensão e intensidade encantadoras. Há uma nova porta para o mundo na região.

Apesar do frio, está soalheira a manhã minhota e enquanto as águas do Lima reflectem nuances de prata os raios de sol vão aquecendo as pedras graníticas do velho pátio e escadaria da casa da Quinta Casal do Paço. Foi aqui que Vasco Croft assentou arraiais para criar um novo conceito de Vinhos Verdes, de acordo com as soberanas leis da natureza e a pureza das uvas. 

O ambiente é de preguiça e a névoa repousa ainda sobre a paisagem verdejante. Ouvem-se à distância os sinos do campanário, o chilrear alegre da passarada e o despique dos galos na capoeira. Vasco Croft sonha com a recuperação do ciclo natural da vida rural de antigamente para a sua propriedade. Os cereais, as frutas, as variedades vegetais, abelhas, azeite, os animais e os estrumes que lhe forneçam a matéria orgânica em que se apoia a agricultura biodinâmica que é a alma dos seus vinhos distintos.

 O projecto, pioneiro na região, arrancou há cerca de uma década e a certificação biodinâmica (Detmer) é uma realidade desde 2011, mas o arquitecto que antes se dedicou ao design de mobiliário depara-se ainda com alguns problemas básicos. A matéria orgânica para fazer o composto que aplica nas vinhas de acordo com os ciclos dos planetas já só a encontra numa vaca da aldeia vizinha. 

Precisa, também por isso, de devolver o ciclo de vida animal à histórica propriedade de família que é a base de produção dos vinhos Aphros, enquanto o enquadramento natural e as antigas funções dos imóveis são criteriosamente repostos. O respeito pela natureza e uma relação de absoluto equilíbrio com a terra são a essência de todo o projecto, e os tratamentos na vinha, à base de cobre e sulfato, são efectuados sem quaisquer produtos de síntese.

Também a velha adega com lagar de granito, instalada nos fundos da casa como era de tradição, está já funcionar “de forma radicalmente natural e sem nada de energia”. Vasco gosta de a designar como “adega medieval”, onde produz pequenos lotes de vinhos artesanais. Foi ao Alentejo buscar meia dúzia de velhas talhas que foram pesgadas com cera de abelha.

Com base na casta Loureiro, a produção Aphros reparte-se por duas propriedades (e duas adegas): a da Quinta de Casal do Paço, em Padreiro, Arcos de Valdevez, com seis hectares onde há também Vinhão e, agora, um pouco de Alvarelhão; ao lado, em Refoios, Ponte de Lima, mais 14 hectares com Loureiro e um pouco de Sauvignon Blanc.

Frescos e intensos

Os vinhos são a mais pura expressão das uvas e da natureza que as envolve. Frescos, frutados e de uma intensidade encantadora. Com a casta Loureiro são engarrafados três vinhos: o Aphros Ten, com apenas 10% por efeito da paragem da fermentação. Aromas cítricos, boca delicada, envolvência sucrosa e um final com saborosos amargos. De aromas mais maduros, o Loureiro clássico é um vinho com mais estrutura, de grande envolvência, tensão e vivacidade na boca. Um verdadeiro marco na nova geração de Vinhos Verdes. O estágio em madeira com borras finas dá ao Daphne um pouco mais de volume e gordura de boca. Termina tenso e mineral, mostrando-se como um dos grandes brancos da actualidade.

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