Fugas - Vinhos

Abílio Tavares da Silva

Abílio Tavares da Silva Fábio Augusto

A colheita mais fresca e elegante dos tintos de Foz Torto

Por José Augusto Moreira

Sendo uma espécie de cristão-novo do Douro, Abílio Tavares da Silva sente, pensa e vive a região como muito poucos. E já não é só gosto, é uma paixão profunda que lhe inundou a alma e o cola à terra e à natureza de forma irremediável.

Com o projecto Foz Torto, uma belíssima propriedade com exposição privilegiada sul-poente e enquadrada pela confluência do rio Torto com o Douro, tem a ambição de criar “algo de novo, especial, feito e pensado ao pormenor”. E para isso tem trabalhado desde que, há cerca de uma década, começou a investir na recuperação e revitalização dos 14 hectares da quinta.

A par dos patamares de vinha, as hortas são outra grande paixão, que cuida e mima como uma preciosidade. Na sua temporada, os tomates enchem-no de orgulho. Uma paixão que o levou já a envolver-se na promoção de um encontro/concurso com o objectivo de incentivar e recuperar a tradicional produção nas quintas do Douro.

Quanto aos vinhos, a produção de Foz Torto apresentou no final do ano seu quinto engarrafamento. Desta vez com apenas dois tintos da vindima de 2014, uma vez que as trovoadas e chuvas torrenciais de meados de Junho dizimaram a colheita de branco para 2015. Uma lástima, já que a vinha velha que possui na zona de Murça proporciona vinhos complexos, frescos e intensos como o de 2014 que agora deu novamente a provar.

Compensam os tintos de 2014, que a enóloga Sandra Tavares da Silva disse “adorar” pelo seu “equilíbrio, fruta e sabor”. E não foi uma colheita fácil, já que as chuvas de meados de Setembro obrigaram a apressar a vindima, com as incertezas daí decorrentes.

Pelos vistos, tudo correu melhor que o esperado e os vinhos mostram um equilíbrio, frescura e elegância que claramente os distinguem das colheitas anteriores. E esta é, precisamente, uma das marcas que Abílio Tavares da Silva quer colar às suas produções: vinhos originais, que exprimam a natureza e as circunstâncias específicas de cada colheita.

No caso do Vinhas Velhas (31€), há um potencial que está ainda guardado por detrás dos aromas tostados e a concentração de fruta e especiarias. Destaca desde já, no entanto, o grande equilíbrio, finura de taninos e uma acidez final que permitem prova muito agradável. O tempo o transformará num dos grandes exemplares da colheita de 2014 no Douro. Foram produzidas apenas 3106 garrafas, das quais 106 em formato magnum.

Bem mais pronto e sedutor está o colheita (12€). Aroma fresco e vinoso, com saborosas notas, bom volume de boca e uns amargos finais que vivamente o recomendam para a mesa. Belo vinho, representando também uma boa compra pela relação entre preço e qualidade. Apenas 3200 garrafas, que o mercado costuma rapidamente esgotar.

 

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